12 Jan, 2021

“Estamos apenas a começar a conhecer as consequências da pandemia na saúde mental”

Em entrevista ao SaúdeNotícias, a country manager da Lundbeck em Portugal destaca o compromisso da empresa no combate ao estigma que ainda prevalece em torno das patologias psiquiátricas.

A Lundbeck é uma das únicas empresas farmacêuticas do mundo dedicada exclusivamente à investigação e desenvolvimento de medicamentos inovadores para doenças mentais e do cérebro, a fim de responder às necessidades ainda não atendidas em patologias como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, doença de Alzheimer, doença de Parkinson e agora também na enxaqueca.

Que empresa encontrou, do ponto de vista interno, quando assumiu a meio deste ano a liderança da Lundbeck em Portugal? Qual a dimensão atual da equipa a nível nacional?

A Lundbeck em Portugal existe desde 2002, mas a companhia foi fundada em Copenhaga há mais de 100 anos (1915). A completar 18 anos de operação em Portugal, é um verdadeiro privilégio e uma honra ter assumido o desafio de continuar a fazer crescer o negócio em Portugal de uma companhia com uma forte herança, que muito nos orgulha e que nos posiciona como pioneiros nas neurociências.

Reconheço que as mudanças de liderança são, naturalmente, pontos de viragem e representam mudança no modo de organizar, gerir e liderar. É minha intenção deixar uma marca indelével, complementando a obra da direção anterior. Acredito que todas as organizações beneficiam com a mudança periódica de timoneiro.

Chega ao leme em plena crise sanitária à escala global sem precedentes, provocada pela pandemia de Covid-19. Que desafios identificou e que objetivos traçou a curto-médio prazo?

Este ano tem sido, efetivamente, um ano muito especial e atípico pela crise sanitária que vivemos e, obviamente, os desafios adensaram-se e foi urgente definirmos prioridades. Estas passaram pela garantia da produção e distribuição normal dos nossos medicamentos, para que estes pudessem continuar a chegar aos doentes que deles precisam.

 

“Muitos doentes sofrem devido à discriminação, tratamento inadequado, reformas antecipadas e outras consequências negativas e desnecessárias”

 

Mas, tivemos outros desafios, como a transformação digital que foi inevitável e que nos obrigou a reinventarmos as nossas atividades, tarefa esta que estamos a desempenhar com grande sucesso, fruto do compromisso, empenho, dedicação e excelência dos profissionais que fazem parte da nossa organização.

Agora, a preparar o fecho do ano, é com orgulho que a companhia demonstra um forte desempenho. As nossas marcas têm demonstrado uma resiliência impressionante e continuam a ter uma sólida posição no mercado, com um crescimento bastante robusto. Sabemos que este crescimento é impulsionado pela eficácia, segurança e qualidade, mas também pela confiança que os profissionais de saúde têm nos nossos produtos estratégicos e nas nossas marcas maduras.

Quais os objetivos que definiu para esta nova etapa da empresa?

Os meus objetivos são liderar, inspirar e motivar a nossa organização para garantir um crescimento sustentado do negócio em Portugal. Este desafio constitui uma enorme oportunidade de desenvolver linhas estratégicas para o desenvolvimento da companhia, tendo como missão melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas e neurológicas. Fundamental, na medida em que Portugal é o segundo país da Europa com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas, apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte.

Mas, também será, certamente, uma oportunidade de crescimento individual, de aquisição de novas competências que me permitam estabelecer objetivos claros, ambiciosos e realistas.

A inovação e o foco no talento serão dois pilares essenciais que marcarão a nossa cultura.

Qual o papel da Lundbeck no combate ao estigma associado às doenças mentais? Em que patologias do foro mental a companhia tem focado a sua investigação?

A Lundbeck é uma das únicas empresas farmacêuticas do mundo dedicada exclusivamente à investigação e desenvolvimento de medicamentos inovadores para doenças mentais e do cérebro, a fim de responder às necessidades ainda não atendidas em patologias como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, doença de Alzheimer, doença de Parkinson e agora também na enxaqueca. São doenças graves e potencialmente fatais que afetam a qualidade de vida dos doentes e dos seus familiares e que são causadoras de grande sofrimento. Esta é das áreas terapêuticas que requer mais tempo e tem uma das maiores taxas de falhas, o que contrasta com outras companhias que desviaram os seus recursos para outras patologias que oferecem melhores perspetivas de retorno do investimento.

Existe ainda uma enorme necessidade de ajuda para combater o estigma e o desconhecimento associado às doenças mentais, porque mais de 70% das pessoas que vivem com transtornos psiquiátricos ou neurológicos sofrem de discriminação. Outro dado importante é que as pessoas com doenças mentais vivem 10 a 20 anos menos que a restante população.

Um dos mais vitais compromissos da Lundbeck é ajudar os doentes a criar possibilidades e a recuperar o funcionamento. Muitos doentes sofrem devido à discriminação, tratamento inadequado, reformas antecipadas e outras consequências negativas e desnecessárias. Há mais de 70 anos que estamos na vanguarda da investigação nas neurociências e o desenvolvimento e distribuição de tratamentos pioneiros continua a fazer a diferença nos doentes em todo o mundo (ver caixa). Somos reconhecidos por termos ajudado centenas de milhões de pessoas que vivem com distúrbios psiquiátricos e neurológicos.

 

“É urgente investir em ações que promovam a literacia em saúde da nossa população, de forma a que as inovações terapêuticas possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”

 

Neste contexto, temos como objetivo sensibilizar e desafiar a sociedade para melhorar a aceitação destes doentes, para que possam ter a oportunidade de recuperar em pleno a sua vida. Mantemos um compromisso com a consciência social e a melhoria do conhecimento das doenças mentais por toda a sociedade, com o desiderato de erradicar o estigma e a exclusão social que ainda estão associados a estas doenças. Acreditamos que desta forma podemos contribuir para: diagnóstico precoce, acesso ao tratamento e adesão à terapêutica. Os três pilares fundamentais para a recuperação completa dos doentes.

Quão importante é combater o estigma associado à depressão, ainda para mais no contexto atual de pandemia, em que o número de pessoas com um quadro depressivo está a aumentar?

Enfrentamos a pandemia de Covid-19 e é evidente a necessidade acrescida decorrente do sofrimento psicológico das pessoas. Na verdade, estamos apenas a começar a conhecer as suas consequências a médio-longo prazo na saúde mental, mas já estamos a observar um aumento no número de sintomas de perturbação de ansiedade, depressão, perturbações de pânico ou problemas de abuso de álcool e substâncias. Porque estamos todos a sofrer uma situação de stress generalizado e com um grande grau de incerteza relativamente ao futuro. É uma situação que não controlamos e que não sabemos quando vai acabar.

Globalmente, mais de 300 milhões de pessoas de todas as idades sofrem de depressão e quase 800 mil pessoas morrem todos os anos por suicídio. A depressão – uma das principais áreas de foco da Lundbeck – é uma patologia grave que causa grande sofrimento, associada a uma série de sintomas, incluindo melancolia, perda de energia, perturbação do humor, alterações cognitivas, dificuldade de memória e concentração e pensamentos suicidas e é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como a principal causa de incapacidade no mundo. ´

Temos que ensinar as pessoas a começar a ouvir os seus sintomas e as suas emoções. É importante aprender a distinguir ansiedade de depressão de ataques de pânico e perturbação da ansiedade generalizada, perda das capacidades cognitivas e sobretudo reconhecer que não funcionar ou retirar prazer de atividades que antes eram prazerosas não é natural e que se deve procurar ajuda. Sempre que há sintomas que estão a afetar a nossa vida e que a dominam é sinal para consultar um especialista.

Na Lundbeck dedicamo-nos a restaurar a saúde mental, para que cada pessoa possa estar no seu melhor e, fruto da intensa investigação, colocamos no mercado tratamentos farmacológicos eficazes e seguros para a depressão.

Há ainda um preconceito, diria mesmo uma fobia enorme, relacionado com a terapêutica farmacológica, à classe dos antidepressivos em particular. As pessoas têm receio que os fármacos as façam ganhar peso, interferir no sono ou na libido, causar dependência ou torna-las “zombies”. Estes efeitos adversos eram típicos das classes dos medicamentos ditos convencionais. Hoje já há alternativas mais inovadoras com um perfil de segurança mais favorável. Na verdade, a questão dos efeitos secundários é fundamental para a adesão à terapêutica antidepressiva e, hoje em dia, já há medicamentos disponíveis que nada têm a ver com os que se utilizavam há 20 anos. O facto de a população ter estas preocupações faz com que muitas vezes os doentes optem por abandonar a terapêutica, o que provoca, na maioria das vezes, recidivas da doença.

 

“É com orgulho que fechámos 2020 com um forte desempenho. As nossas marcas têm demonstrado uma resiliência impressionante e continuam a ter uma sólida posição no mercado, com um crescimento bastante robusto”

 

Outro aspeto de importância ímpar é a necessidade de aumentar a literacia em saúde, nomeadamente nas doenças do cérebro. Há quem defenda que a doença mental não é uma doença orgânica, mas, na realidade, é. O cérebro é um órgão e está perturbado. Há uma desregulação neuroquímica no sistema nervoso central que deverá ser corrigida. O risco de não tratar uma depressão é tremendo, porque aumenta o risco do aparecimento de outras doenças, já para não falar da pior consequência desta doença, que é o suicídio.

Que iniciativas têm levado a cabo neste âmbito, que, no fundo, é a área terapêutica em que a empresa tem maior peso?

É urgente investir em ações que promovam a literacia em saúde da nossa população, de forma a que as inovações terapêuticas possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Para tal, promovemos campanhas destinadas à comunidade e temos planeado o estabelecimento de parcerias com sociedades médicas e com as principais associações de doentes para uma colaboração em sinergia na persecução deste objetivo.

Também na Fundação Lundbeck, em Copenhaga, levamos a cabo programas educacionais destinados à comunidade científica baseadas em evidência científica na área das doenças psiquiátricas e neurológicas que muito contribuem para a melhoria da prática clínica no nosso país. É possível nestes fóruns debater o paradigma das doenças mentais e do cérebro, refletindo sobre o standard of care no tratamento destas patologias, discutir os desafios atuais e futuros à luz dos novos objetivos terapêuticos.

Acreditamos na importância da educação contínua e na evolução do conhecimento e que os profissionais de saúde têm que ser ajudados a acompanhar o progresso científico e a serem cada vez mais ambiciosos com os outcomes dos tratamentos. Por exemplo, hoje em dia, na depressão, já não basta tratar os sintomas típicos da doença – a perturbação de humor, como a tristeza ou a melancolia –, mas importa devolver os doentes a uma sociedade produtiva; é possível recuperar o funcionamento destes doentes para que não só se sintam melhor, como também pensem melhor e façam melhor.

A Lundbeck prevê expandir o portfólio para outras áreas?

Sim. Temos um pipeline robusto, bastante promissor e abrangente, incluindo programas inovadores com forte potencial para trazer para o mercado tratamentos com alto impacto para as pessoas com doenças mentais e do cérebro. Para além de compostos que se encontram nas fases clínicas do seu desenvolvimento em áreas terapêuticas onde já operamos – como as doenças de Parkinson e de Alzheimer, dor neuropática ou esquizofrenia – investigamos noutras áreas como o tratamento e prevenção da enxaqueca. Este investimento permitiu-nos colocar recentemente no mercado americano um novo medicamento biológico de alta tecnologia, com um perfil de eficácia e segurança muito vantajoso e que irá também certamente ajudar milhões de doentes que sofrem desta patologia tão debilitante em todo o mundo.

SO

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