É urgente refletir sobre a importância da saúde mental perinatal
Assistente Hospitalar no HESE Coordenadora da Equipa de Saúde Mental Perinatal e Doutoranda em Medicina NMS|FCM, Comprehensive Health Research Centre

É urgente refletir sobre a importância da saúde mental perinatal

O período perinatal (compreendido como o período desde o momento da conceção até um ano após o parto) constitui uma experiência única, individual e mesmo familiar, envolta em transformações e adaptações multifacetadas a nível físico, psíquico, social e emocional.

É frequente os pais sofrerem um processo espiral de sofrimento psíquico durante a gravidez e/ou pós-parto, muitas vezes negligenciado pelas figuras de apoio mais próximo, mas também pelos profissionais de saúde; esta lacuna sobre o foco do bem-estar psíquico da mulher (grávida ou no período após o parto), mas também da nova família em re (construção), associa-se em parte ao facto da gravidez estar normalmente associada a preocupações ao nível do seu bem-estar obstétrico, do bem-estar do feto e posteriormente da criança.

 A saúde mental perinatal, numa perspetiva holística e de maximização do impacto da intervenção, deverá ser um determinante “a cuidar” durante todo o processo de gestação e no pós-parto, essencial enquanto viabilidade para um projeto de parentalidade saudável e, igualmente, fundamental para o desenvolvimento de um novo ser. A família, na realização do seu projeto de parentalidade, deverá ser apoiada em relação com uma rede de sistemas relacionais, primários e secundários, que poderão permitir o atenuar das vulnerabilidades e/ou superação das mesmas.

Na última década tem vindo a ser publicada evidência que aponta para a relevância do impacto das problemáticas de saúde mental perinatal. Nesse sentido foi possível apontar as problemáticas de saúde mental perinatal como constituindo atualmente a principal complicação obstétrica não diagnosticada. Assim, o período perinatal foi identificado como a fase do ciclo de vida das mulheres em que existe maior risco para o desenvolvimento de doença mental.

De uma forma geral, e comparativamente a outros períodos de vida, no período perinatal, a doença mental tem uma progressão mais rápida de sintomas. Este facto preconiza que ao nível dos cuidados de saúde mental sejam estabelecidas intervenções que contemplem não só a continuidade de cuidados, mas também a intervenção imediata.

É fundamental evitar ou diminuir danos decorrentes de doença mental não tratada, devido ao risco para a mulher (complicações obstétricas ou necessidade de internamento em Psiquiatria), e para o bebé (dificuldades no estabelecimento de uma vinculação segura, na autorregulação emocional e no desenvolvimento cognitivo).

Embora as recomendações da DGS nos cuidados de saúde primários já preconizem a importância de avaliar o estado mental neste período da vida, a ausência de um plano de apoio e de intervenção estruturado durante a gravidez e pós-parto resultam na acentuação de múltiplas vulnerabilidades que rodeiam as exigências da parentalidade, que se agravam quando associadas a perturbações da sua saúde mental.

Assim, é urgente refletir sobre a importância de definição de uma abordagem integrada da saúde mental no período perinatal, que permita não só o rastreio sistemático de doença mental, mas também a capacitação para a intervenção de todos os profissionais de saúde envolvidos diretamente na prestação de serviços durante este período.

 

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