Doença Valvular Cardíaca. “A avaliação médica regular é fundamental”
Em entrevista, o diretor do Departamento Cérebro-cardiovascular do Hospital de Évora, Lino Patrício, aborda a importância do diagnóstico precoce da doença da válvula cardíaca e pede aos colega que "não deixem de tratar os mais idosos".
Termina esta sexta-feira, 16 de setembro, a Semana Europeia da Sensibilização para a Doença Valvular Cardíaca que se centra na campanha #OuçaOSeuCoração. Organizada pela Global Heart Hub, une-se à iniciativa Valve For Life e à campanha “Corações de Amanhã” da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC).
A doença valvular cardíaca é descrita como a próxima epidemia cardíaca. Porquê?
Porque afeta uma em cada oito pessoas com mais de 75 anos. Estima-se mesmo que este número duplique até 2040 e triplique até 2060. A degenerescência das válvulas e o envelhecimento da população vão levar a um aumento desta condição.
Como se caracteriza a doença da válvula cardíaca?
Os seres humanos têm quatro válvulas no coração que podem começar a funcionar mal, quer por insuficiência, não fecham bem, quer por estenose, aperto. As patologias mais comuns são a estenose aórtica e a insuficiência mitral, que afetam o fluxo sanguíneo para todo o corpo. Os sintomas mais comuns são, essencialmente, aperto ou dor no peito, falta de ar, fadiga, desmaios e atividade física reduzida.
Mas a causa da patologia valvular é somente o envelhecimento?
Na maioria das situações, sim. Quando a doença era reumática e inflamatória, afetava, sobretudo, jovens adultos, mas atualmente as alterações são principalmente degenerativas.
“… o grande problema é achar-se que alguns dos sintomas, como a fadiga, são próprias da idade.”
A doença da válvula cardíaca está subdiagnosticada e subtratada?
Sim, sem dúvida! Por um lado, o grande problema é achar-se que alguns dos sintomas, como a fadiga, são próprias da idade. Por outro, nem sempre se usa o estetoscópio, na observação dos doentes. É sempre importante, mas nomeadamente a partir dos 50 anos é fundamental auscultar os doentes. A avaliação médica regular, através da auscultação do coração com um estetoscópio, é fundamental na doença das válvulas cardíacas. Todos os médicos, sobretudo os de família, devem fazê-lo para detetarem o quanto antes esta patologia. Há quem esteja anos sem qualquer sintoma; o diagnóstico e a referenciação atempada para o cardiologista fazem toda a diferença.
“Hábitos de vida saudáveis são sempre importantes, mas não existe forma de evitar a degenerescência das válvulas.”
Qual o tratamento?
Depende da doença, mas existem situações clínicas que, quando diagnosticadas atempadamente, podem ser tratadas de forma simples. Os medicamentos diminuem os sintomas: nos casos mais graves, consoante a patologia, pode ser também necessário recorrer a intervenção cirúrgica para reparar ou substituir a válvula ou a intervenção percutânea.
Quando este problema de saúde surge por causa da idade avançada, há alguma forma de a prevenir?
Hábitos de vida saudáveis são sempre importantes, mas não existe forma de evitar a degenerescência das válvulas. No entanto, a substituição valvular sem intervenção cirúrgica é uma forma simples de tratamento e tem excelentes resultados.
Que mensagem gostaria de deixar aos médicos?
Não deixem de tratar os mais idosos. No meu hospital já intervi em muitas pessoas com mais de 90 anos e hoje têm uma vida com mais qualidade e bem-estar. Não se podem colocar limites etários… Todos têm direito ao tratamento e à qualidade de vida.
SO
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