Dermatite atópica custa 218 milhões de euros por ano ao SNS

Investigadores estimam, contudo, que impacto económico total da dermatite atópica na sociedade, que afeta 440 mil pessoas em Portugal, seja perto de 1.500 milhões de euros.

A dermatite atópica representa um custo anual de 1.018 milhões de euros, dois terços dos quais suportados pelos doentes, que recorrem maioritariamente aos serviços de saúde privados devido aos tempos de espera no SNS, revela hoje um estudo.

Com o objetivo de avaliar os impactos sociais, laborais e económicos desta doença crónica, a investigação, divulgada hoje, no dia em que se celebra o Dia Mundial da Dermatite Atópica, avançou que cada doente gasta, em média, 1.818 euros por ano na gestão da patologia, nomeadamente em produtos, consultas, medicamentos, deslocações e tratamentos complementares.

Só em gastos com medicamentos, um doente com dermatite atópica ligeira gasta em média 530 euros, valor que aumenta para 2.054 euros nos casos mais graves.

O estudo, realizado pela NOVA IMS da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV) e com a Associação Dermatite Atópica Portugal (ADERMAP), refere ainda que, em média, estes doentes gastam três quartos de hora por dia a tratar da doença e nos casos mais severos 81 minutos.

Segundo o Prof. Dr. Pedro Simões Coelho, o coordenador da investigação, que decorreu entre junho de 2019 e janeiro de 2020 e obteve 204 repostas de doentes diagnosticados, este é “o primeiro estudo desta natureza em Portugal”.

“A dermatite atópica tem um impacto muito significativo, nalguns casos dramático, na qualidade de vida dos doentes“, adiantou o responsável à agência Lusa. Embora se manifeste “com níveis de intensidade diferentes [ligeiro, moderado e grave]”, em todos os níveis há “impactos sociais significativos” como mais de um terço dos doentes a manifestar sentimentos de “vergonha, ansiedade e frustração” devido à doença.

O investigador explicou que este impacto se faz sentir em várias atividades, incluindo a nível laboral nas pessoas em idade ativa que sofrem da doença. Neste âmbito, os doentes perdem, em média, dois dias de trabalho por ano – ou nove dias nos casos mais graves – e ainda o equivalente a 50 dias de trabalho por ano devido à perda de produtividade por as pessoas se sentirem mal.

“Entre dias faltados, perda de produtividade, e também dias faltados por familiares ou cuidadores, nós estimamos que haja um impacto económico total na sociedade de perto de 1.500 milhões de euros“, salientou o Prof. Dr. Pedro Simões Coelho, que enfatiza esta “expressão económica muito significativa”.

A doença também acarreta “custos significativos” anuais para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) (218 ME) no tratamento destes doentes e para os doentes (800 ME), totalizando 1.018 milhões de euros, mas “o investimento nesta doença tem “um significativo retorno positivo para a sociedade, que se traduz em qualidade de vida do doente, e numa importante mitigação do seu impacto económico”, destacou.

  • despesa suportada pelo SNS no tratamento destes doentes é de 218 milhões de euros.

Quanto ao sistema de saúde utilizado pelos inquiridos, os dados apontam para 70% dos doentes a recorrer ao privado, dos quais 86% esperam menos tempo para uma consulta de dermatologia – o tempo de espera é oito vezes inferior em relação ao Serviço Nacional de Saúde.

“A relevância do sistema de saúde privado para estes doentes mostra que existem questões de equidade que necessitam ser garantidas para um acesso à saúde justo para todos”, defendeu o presidente da SPDV, Miguel Peres Correia.

De acordo com o estudo, os doentes estariam dispostos a abdicar de 21% do seu rendimento anual para conseguirem eliminar a doença, cujo diagnóstico surge, em média, dois anos após os primeiros sintomas. Em 10% dos doentes demorou mais de seis anos.

“Na maioria das pessoas, acresce ainda outras comorbilidades que fazem piorar ainda mais” o estado de saúde e “agravar a qualidade de vida, que nalguns casos é inexistente”, disse a presidente da ADERMAP, Joana Camilo, portadora da doença.

Para Joana Camilo, esta doença “tem de ser valorizada, pelos doentes, pelas famílias e pelo Estado”.

Estima-se que existam cerca de 440.000 pessoas em Portugal com dermatite atópica, das quais 46% apresentam formas mais graves da doença, que tem como sintomas vermelhidão na pele, edema, comichão, pele seca, fissuras, lesões descamativas, crostas e exsudação.

SO/LUSA

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