Campanha “Quanto pesa o medo?” quer enfrentar o estigma e alertar para o impacto da obesidade
A campanha “Quanto pesa o medo?” quer ajudar quem vive com obesidade a enfrentar o estigma e o medo do impacto da doença, associada a mais de 200 patologias e dezenas de cancros.

Sociedades médicas e de doentes lançam hoje a campanha “Quanto pesa o medo?”, uma iniciativa que pretende ajudar quem vive com obesidade a lidar com os medos e o estigma associados à doença, que está relacionada com mais de 200 patologias e dezenas de tipos de cancro.
Em declarações à agência Lusa, Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), explicou que o objetivo é sensibilizar para as múltiplas doenças associadas à obesidade, muitas das quais as pessoas desconhecem.
“Se tiver obesidade, eu tenho medo de não viver o suficiente para criar os meus filhos. (…) As pessoas têm medo do cancro, mas ninguém associa o cancro à obesidade”, afirmou, sublinhando que “o que está na base de muitas doenças ou comorbilidades é precisamente a obesidade”.
Com presença em televisões, hospitais, farmácias e plataformas digitais, a campanha defende que compreender e acolher os medos e as angústias de quem vive com obesidade é essencial para o tratamento de uma doença que afeta não só a saúde física, mas também a mental e emocional.
Paula Freitas alerta que o estigma e o preconceito permanecem profundamente enraizados — “não só nas pessoas que vivem com obesidade, mas também na sociedade e entre profissionais de saúde” — e critica a visão simplista de que “tratar obesidade é apenas comer menos e mexer-se mais”.
A iniciativa resulta de uma parceria entre a Associação Portuguesa de Pessoas que Vivem com Obesidade (ADEXO), a SPEDM e a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), com o apoio da Novo Nordisk, e reforça a mensagem de que a obesidade é uma doença crónica e tratável.
“O desafio é simples, mas urgente: não deixar que o medo pese mais do que a decisão de procurar apoio médico”, afirmam os organizadores.
De acordo com Paula Freitas, o tratamento da obesidade baseia-se em três pilares fundamentais — alterações comportamentais, terapêutica médica e cirurgia — e o primeiro passo deve ser procurar o médico de família, que pode acompanhar o caso ou encaminhar para cuidados hospitalares especializados.
“Existem pessoas com formas graves de obesidade em que a cirurgia é a primeira opção, outras em que o tratamento é médico, e outras em que a intervenção comportamental é a base. Ao longo da vida, quem tem obesidade pode precisar das três”, explicou.
A endocrinologista reforça que há hoje terapêuticas médicas eficazes, seguras e bem toleradas, que permitem tratar a obesidade “como tratamos a diabetes, a hipertensão ou o colesterol elevado”.
Paula Freitas defende que o tratamento deve ser iniciado de forma precoce, antes do aparecimento das doenças associadas, e recorda que o impacto económico da obesidade é elevado. Um estudo da SPEO estimou em 1,2 mil milhões de euros os custos diretos associados à doença — o equivalente a 0,6% do PIB e 5,8% das despesas em saúde.
A estes somam-se os custos indiretos, relacionados com o absentismo e a perda de produtividade. “Muitas pessoas são preteridas no trabalho ou ficam incapacitadas pelas doenças associadas”, referiu a médica.
“Pode parecer caro tratar a obesidade agora, mas se não o fizermos, será muito mais caro tratar as mais de 200 doenças que dela resultam”, advertiu Paula Freitas.
Atualmente, as doenças crónicas representam 86% da carga global de doença em Portugal. Estima-se que cerca de dois milhões de adultos vivam com obesidade e que 67,6% da população tenha pré-obesidade, o que coloca o país no terceiro pior lugar da Europa.
LUSA/SO
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