23 Nov, 2023

Bastonário dos médicos “muito desiludido” com intervenção do Ministério da Saúde na crise do SNS

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) manifestou-se “muito desiludido” com a intervenção do Ministério da Saúde na crise que o SNS atravessa, alertando para o estado grave em que muitos doentes estão a chegar aos hospitais.

Carlos Cortes disse à agência Lusa que há doentes a chegar em “situações extremas” aos hospitais do SNS, porque não estão a ir à urgência, “onde sabem que vão ter que esperar 12 horas para ser atendidos” e a situação clínica agrava-se “de uma forma que os próprios médicos já não estavam habituados a ver há décadas”, tendo em conta o avanço da Medicina.

“Agora estamos a voltar a ver situações limite (…) muitas vezes em situações de emergência, em que os médicos ficam surpreendidos”, sublinhou o bastonário, que falava à Lusa a propósito do congresso da Ordem dos Médicos, que decorre entre esta quinta-feira e sábado em Vila Nova de Gaia, no Porto.

Carlos Cortes disse estar “muito desiludido” com a intervenção do Ministério da Saúde: “É uma desilusão estar há mais de um ano e meio, quase dois anos daqui a pouco, em negociações intermináveis que nunca chegam a nenhuma conclusão”, com consequências sobre a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O bastonário afirmou que, neste momento, a questão mais visível é “a falha” da resposta dos serviços de urgência, mas advertiu que “o problema é muito mais grave”. “A falha da resposta de urgência é aquilo que vemos diretamente, mas também há um problema indireto: muitos destes doentes, que neste momento têm dificuldade em ter uma resposta urgente, acabam por ver o seu estado de saúde agravar-se”, alertou.

A poucas horas de mais uma reunião entre o Ministério da Saúde e os sindicatos, Carlos Cortes reiterou ser “obrigatório” chegar a acordo. Porém, lamentou, “inexplicavelmente o ministro da Saúde acaba por não dar nenhuma solução para qualquer um destes problemas que têm sido apresentados e que todos conhecemos”.

Questionado sobre se espera avanços na reunião de hoje entre o Ministério e os sindicatos, Carlos Cortes disse que não se pode adiar mais um acordo. “Nós não podemos adiar. Não podemos estar em suspenso até às eleições de março, porque se pensarmos bem, havendo um novo governo em março, esse governo tem que tomar posse, tem que tomar conta dos problemas do país. Entretanto, chega o verão e isto não pode ficar adiado por mais de um ano”, advertiu.

Para o bastonário, “a saúde dos portugueses não pode estar à espera um ano”, nem pode estar à espera “da incapacidade de resolução dos problemas” pelo Ministério da Saúde, sendo por isso “obrigatório existir muito rapidamente um acordo”.

Isto porque, lamentou, parece que o que está a acontecer no país está “a cair numa espécie de normalidade” para o Ministério da Saúde. “Para o Ministério da Saúde é normal, neste momento, as urgências não funcionarem. Para o Ministério da Saúde é normal muitos doentes verem o seu estado de saúde agravar”, frisou.

Chamou ainda a atenção para o “impacto muito grave” que esta situação vai ter sobre os doentes. “Estamos a olhar só para o impacto imediato, aquilo que vemos todos os dias nos órgãos de comunicação social – os doentes terem um tempo de espera de várias horas ou haver uma urgência aqui e ali que fechou – aquilo que ainda não estamos a ver é o impacto verdadeiro que está a ter na saúde das pessoas”, sustentou. Infelizmente, rematou, “muito desse impacto só será visível depois de este Ministério sair de funções”.

Segundo a Direção Executiva do SNS, há 37 hospitais, com urgências de várias especialidades, de todo o país que estão a funcionar esta semana com constrangimentos provocados pela recusa dos médicos em fazerem mais horas extraordinárias do que as 150 obrigatórias por lei.

LUSA

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