
Médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia com área de atividade principal na Medicina de Reprodução
Antidepressivos durante a gravidez: sim ou não?
A gravidez é um momento marcante, carregado de expectativas, mudanças físicas e emocionais. Para quem enfrenta desafios de saúde mental, como a depressão, este período pode ser particularmente exigente, especialmente em casos de Procriação Medicamente Assistida (PMA), onde as taxas de sucesso não são garantidas. A gestão da depressão durante a gravidez exige, por isso, uma abordagem ponderada, individualizada e multidisciplinar.
Os processos de PMA podem ter um grande impacto a nível psicológico, sobretudo em pessoas com histórico de depressão. A incerteza e o desgaste emocional associados aos tratamentos, juntamente com a pressão de ter sucesso nos mesmos, podem agravar condições pré-existentes ou mesmo desencadear novos episódios depressivos. Aqui, o papel do acompanhamento especializado é crucial, numa relação multidisciplinar entre a psiquiatria, a psicologia e a obstetrícia.
A questão central “Deve-se tomar antidepressivos na gravidez?” não tem uma resposta simples e universal. Depende de vários fatores, incluindo a gravidade da depressão, a resposta aos tratamentos e os riscos associados ao uso de medicamentos na gravidez. Em muitos casos, são necessários reajustes terapêutico, otimizando o tratamento.
O ideal é que todas as decisões sejam tomadas em conjunto por uma equipa multidisciplinar que inclua um obstetra, um psiquiatra e um psicólogo. Este acompanhamento integrado garante que todas as dimensões — física e emocional— sejam abordadas. Muitas vezes é preciso obter um relatório ou manter uma comunicação próxima com o médico responsável pelo acompanhamento psiquiátrico da paciente, antecipando eventuais ajustes terapêuticos.
Mesmo após o nascimento, o risco de depressão persiste, seja na forma de depressão pós-parto ou na continuidade de um episódio iniciado durante a gravidez. A preparação é essencial: estar atento aos sinais precoces e ajustar a terapêutica rapidamente pode fazer a diferença entre uma recuperação tranquila e complicações que afetem a mãe e a ligação com o bebé.
Mais do que decidir pela utilização de antidepressivos ou não, o ponto central é garantir que a saúde mental seja tratada com o cuidado que merece. O acompanhamento psicológico regular e uma abordagem personalizada devem ser pilares de qualquer plano de tratamento. Cada caso é único e deve ser tratado como tal.