20 Mar, 2025

“A doença renal crónica é uma doença assintomática até fases tardias”

Serafim Guimarães, Vogal da Direção da Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL), alerta que a doença renal crónica não dá sintomas, nas fases iniciais, e apela ao rastreio. Nas fases mais avançadas, a doença implica tratamento com diálise, o que tem um impacto significativo na qualidade de vida.

“A doença renal crónica é uma doença assintomática até fases tardias”

Qual a prevalência da doença renal crónica (DRC) em Portugal?

Estima-se em cerca de 10% em todos os seus estádios.

Continua a ser uma doença subdiagnosticada. Isso deve-se ao facto de ser uma doença assintomática na fase inicial?

Sim. A DRC é uma doença assintomática até fases tardias. Também é verdade que a relação entre risco cardiovascular e doença renal não está estabelecida no senso comum, o que faz com as medidas de prevenção que implicam alguns sacrifícios (dieta, exercício,…)  custem mais a ser aceites.

A hipertensão (HTA) continua a ser o principal fator de risco. A que outros fatores de risco também se deve estar atento?

A diabetes é a doença que mais frequentemente causa DRC. A HTA pode ser causa e consequência de doença renal. Se, por um lado, os doentes hipertensos não controlados podem desenvolver DRC, por outro, esta, sobretudo em fases mais avançadas, pode cursar com HTA.

O risco cardiovascular está intimamente ligado ao risco de do20ença renal. Todos os fatores de risco habitualmente associados à doença cardiovascular (tabaco, obesidade, sedentarismo, dislipidemia, aterosclerose, …) são-no também fatores de risco para DRC.  Há também algumas doenças hereditárias, como por exemplo a doença renal poliquística autossómica dominante e várias outras, de menor frequência.

“Apesar de, atualmente, as complicações agudas da diálise serem pouco frequentes e os sintomas de baixa intensidade, a limitação é sentida sobretudo nos mais novos”

A DRC, em fases mais avançadas, implica tratamento de diálise. Qual o impacto deste tratamento na qualidade de vida do doente?

A diálise tem um enorme impacto na vida dos doentes, porque se dá uma alteração radical das suas rotinas. Há uma obrigação de ir aos tratamentos 3 vezes por semana, há algumas limitações alimentares e de ingestão de água, tudo situações que não são naturais. Apesar de, atualmente, as complicações agudas da diálise serem pouco frequentes e os sintomas de baixa intensidade, a limitação é sentida sobretudo nos mais novos em idade de vida ativa, que não dispõem de tempo nem da energia necessária para levar a sua vida.

E no sistema de saúde, tendo em conta os custos diretos e indiretos?

Trata-se de uma doença muito onerosa para os sistemas de saúde, não só em custos diretamente ligados à técnica, mas também em custos associados com medicamentos, análises e exames, cuidados com o acesso vascular e ainda os custos sociais e familiares associados à morbilidade, absentismo, internamentos, perda de rendimentos, saúde mental, etc.

Que medidas devem ser tomadas para que a DRC seja prevenida ou, pelo menos, para que seja diagnosticada numa fase mais precoce?

Rastreio, deteção precoce, hábitos de vida saudável, controlo da diabetes e hipertensão, moderação no consumo de sal, exercício físico, hidratação, evicção de medicamentos nefrotóxicos.

MJG

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