85% dos casos de meningite em adolescentes são provocados pelo grupo B
Pediatra do Hospital Lusíadas Lisboa

85% dos casos de meningite em adolescentes são provocados pelo grupo B

O pediatra Sérgio Neves reforça quais são os principais fatores de risco para a propagação do meningococo B, causador de 85% dos casos de meningite em adolescentes.

O Programa Nacional de Vacinação (PNV) foi atualizado em outubro de 2020 com a inclusão da vacinação para meningococo B (para crianças nascidas a partir de 2019) e papiloma vírus para rapazes aos 10 anos. Contudo, na adolescência a vacinação para a doença meningocócica pelo serotipo B mantém-se em extra-PNV, pelo que os níveis de “proteção” são subóptimos. Esta situação é preocupante já que em Portugal, 85% dos casos em adolescentes são provocados pelo grupo B.

Na adolescência, a socialização (inclusão no grupo de pares) é fundamental, o que torna os adolescentes especialmente vulneráveis a contágios, nomeadamente pelo meningococo. É comum a partilha de bebidas, alimentos, telemóvel, um cigarro, o estar em proximidade em grupo (viagens de finalistas/acampamentos, intervalos de escola, ginásios). Outro aspeto de risco é a vivência da sexualidade (em media pelos 14-16 anos) como forma de contágio (beijos/ contato sexual).

Acresce ainda a globalização com mobilidade crescente de pessoas entre países e escolas com crianças e adolescentes de diferentes contextos culturais e sociais.

A infeção grave pelo meningococo, sépsis (infeção generalizada) e/ou meningite, pode ser potencialmente fatal ou causadora de sequelas (epilepsia, défices de audição, paralisias). Se pensarmos que é nesta 2ª década de vida que se determina projetos futuros, vida de relação e a qualidade da saúde na vida adulta, uma doença grave conduz a uma perda significativa!

Os adolescentes e adultos jovens são frequentemente portadores, ou seja, mantêm a bactéria na via respiratória superior e podem transmiti-la a terceiros (irmãos mais novos ou outros familiares, colegas de turma/ de atividades extra-curriculares em ambientes fechados) ou ter a doença, em particular se a sua imunidade ficar comprometida ou sofrerem trauma grave da base do crânio (por ex. acidentes graves: quedas, acidentes de viação).

Muitas vezes os sintomas iniciais são similares a outras doenças comuns como constipações/gripes ou mesmo a covid-19: febre, dor de garganta, dor de cabeça ou dores nos músculos. E em poucas horas pode agravar-se o quadro (vómitos, intensificação das dores de cabeça/ pernas, prostração, pele marmoreada/fria), pelo que não deve ser adiada a avaliação num serviço de urgência, mesmo no contexto atual de pandemia – o tempo conta para diminuir a mortalidade e a gravidade!

Assim, a vigilância da saúde do adolescente deve ser cumprida (consultas dos 10 anos, 11-13 anos, 15 -18 anos). Estas consultas são oportunidades de avaliar o crescimento/puberdade, ajudar os pais no seu papel de educador, auxiliar na definição de projetos futuros e de rastrear situações de risco (doença mental, consumos, dificuldades na sexualidade e na relação por exemplo). Como medida preventiva a vacinação extra-PNV (meningite B, varicela, hepatite A, papiloma vírus nos rapazes com mais de 12 anos) deve ser discutida nessas consultas, adequando a intervenção ao adolescente e seu contexto.

Cada vez mais a prevenção deve anteceder a doença. No caso do meningococo, ainda que rara pode ser grave, e não há forma de saber quem será o seu alvo, exceto se estiver protegido!

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