23 Mai, 2023

Stress. “Pretende-se que os profissionais possam expressar in loco o que os incomoda”

“Support Debriefing como cultura para redução do Stress” é um projeto da equipa da sala de Emergência do Hospital Distrital de Santarém. Este ano, foi um dos três vencedores da 3.ª edição da Bolsa “Capital Humano em Saúde” da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH). Em entrevista, a enfermeira responsável, Célia Mestre, explica as mais-valias desta partilha entre profissionais.

Em que consiste o projeto “Support Debriefing como cultura para redução do Stress”?

Este projeto consiste num suporte para a equipa, como estratégia para a gestão do stresse inerente à situação de PCR (paragem cardiorrespiratória) na sala de Emergência. Propõe um debriefing técnico-emocional que consiste numa breve reunião, em que a equipa analisa de forma reflexiva aspetos de vertente técnica e de vertente emocional, que considere relevantes após a atuação da equipa multiprofissional. Assenta em quatro pilares fundamentais: a humanização do espaço, criando condições para o debriefing; a formação da equipa; a criação de estratégias facilitadoras; e uma Via Verde Psicologia para apoio aos profissionais envolvidos, sempre que necessário.

“Por mais capazes que estejam as equipas, as situações de PCR não são iguais”

Quando é que começou?

Este projeto começou com a candidatura à Bolsa da APAH. Inicialmente a candidatura tinha dois elementos, a Dra. Vanda Alambre, Vogal Executiva do Conselho de Administração e eu. Na segunda fase da candidatura contou-se ainda com uma médica (Dra. Luísa Wandschneider), duas enfermeiras (Enf.ª Sandra Marques e Enf.ª Cláudia Pereira), uma psicóloga (Dra. Inês Santos), e uma administradora hospitalar (Dra. Marta Bacelar).

 

Quais os principais problemas emocionais que surgem neste debriefing?

Pretende-se sempre dar espaço à discussão da vertente técnica e também emocional, o que o profissional sente é o que é importante. Por mais capazes que estejam as equipas, as situações de PCR não são iguais. Pretende-se que os profissionais possam expressar in loco o que os incomoda ou que considerem importante melhorar, ou apenas partilhar, pode não ser um problema, mas algo que se não fosse falado poderia tornar-se num problema. Estamos na fase de construção do projeto, logo não temos dados relativos às questões emocionais mais frequentes.

“Os profissionais de saúde são pessoas com sentimentos, não é por lidarem com situações de emergência que deixam de estar sensíveis às histórias difíceis com que lidam”

Poderá haver alguma relutância em se falar de emoções no local de trabalho?

Estamos a preparar a implementação prática do projeto, a relutância em falar de emoções é transversal a todos os contextos de trabalho e o que se pretende com este projeto é proporcionar estratégias que sejam facilitadoras dessa partilha. Os profissionais de saúde são pessoas com sentimentos, não é por lidarem com situações de emergência que deixam de estar sensíveis às histórias difíceis com que lidam. São pessoas com uma capacidade de resiliência e adaptação enorme. A partilha é fundamental tanto para o sentimento de pertença à equipa, como para a melhoria da atuação em situações futuras.

 

Com o Prémio da APAH, acredita que o projeto pode ser replicado?

Este projeto é de fácil replicabilidade quer em outras instituições quer em outros serviços ou realidades em que as equipas atuem em situações de PCR, com o benefício da melhoria técnica e emocional na equipa, promoção do sentimento de pertença à equipa e otimização da atuação junto do doente em situação de PCR. Destaco também o seu baixo custo.

 

Texto: Maria João Garcia

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