16 Out, 2024

Saúde mental. “Os jovens têm uma perspetiva diferente do mundo do trabalho”

Quatro em cada 10 jovens portugueses sentiram desconforto emocional frequente no último ano, de acordo com III Inquérito FutURe. A psicóloga Ana Carina Valente, docente no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), lembra que as novas gerações defendem um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal para se sentirem bem.

Saúde mental. “Os jovens têm uma perspetiva diferente do mundo do trabalho”

30Os resultados são claros: 64% dos jovens em Portugal indicam que a situação financeira tem um impacto direto no seu bem-estar emocional, assim como a incerteza em relação ao futuro, especialmente no que toca ao planeamento familiar (47,6%) e às preocupações com a remuneração e condições de trabalho (46%). Para Ana Carina Valente, a situação é “preocupante”. “Estas questões de saúde mental devem começar a ser trabalhadas de forma precoce nas novas gerações, de modo a se prevenir ou a se minimizar o seu impacto na saúde mental”, defende.

A psicóloga e docente do ISPA realça, ainda, outros resultados do inquérito que não podem ser secundarizados: 75,7% dos inquiridos consideram crucial que as empresas ofereçam maior flexibilidade e benefícios de saúde adequados; 61% dos jovens afirmam que as redes sociais geram desconfiança devido à disseminação de notícias falsas; e 78% dos jovens portugueses desconhecem questões relacionadas à reserva ovárica, o que afeta o planeamento familiar e o envelhecimento populacional.

Relativamente às condições laborais, Ana Carina Valente considera que as empresas têm de se adaptar às necessidades das novas gerações. “Os jovens têm uma perspetiva diferente do mundo do trabalho, dando mais importância ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal”, salienta.

Continuando: “Não se dá valor apenas ao rendimento, mas também às condições laborais; já não se sentem valorizados por trabalharem dia e noite como as gerações anteriores e as empresas devem olhar para esta nova realidade.”

A psicóloga reconhece que, como em qualquer situação, também é preciso promover a adaptação e a aceitação dos obstáculos, mas vê como positivo o facto de os mais novos conseguirem dar outro valor à saúde mental. “Os jovens não são preguiçosos; têm, todavia, uma maior inteligência emocional em comparação com as gerações anteriores.”

Além da mudança de mentalidades que esta nova perspetiva implica para as empresas, a psicóloga considera que é crucial legislar e beneficiar as entidades empresariais que pensam no bem-estar dos trabalhadores, face às novas necessidades. “Se as pessoas não se sentem bem física e mentalmente, acabam por ter problemas de saúde, com todas as consequências daí decorrentes para o Estado, sociedade, empresas, etc.”

Ana Carina Valente alerta, ainda, para a necessidade de se preparar os mais novos para saberem lidar com as redes sociais. “O que se passa nas redes, não corresponde sempre à realidade e é essencial que se tenha espírito crítico, para se evitar a frustração e uma autoimagem negativa:”

O III Inquérito FutURe, realizado em 15 países europeus, envolveu mais de 9.300 jovens da geração Millennial (nascidos entre 1981 e 1996) e da geração Z (nascidos entre 1997 e 2010).

 

MJG

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