Rui Tato-Marinho. “Desejamos que ninguém veja as hepatites apenas como letras”
É necessário investir em testes e tratamentos, sendo essencial não menosprezar a infeção que pode provocar patologias graves, alerta o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais.
Como parte do programa das 13ªs Jornadas de Doenças Infeciosas do Hospital de Curry Cabral (HCC), realizou-se, no passado dia 25 de fevereiro, uma mesa-redonda dedicada às “Hepatites Víricas”. A sessão foi moderada por Rui Sarmento e Castro, do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), e por Guilherme Macedo, do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).
“Há pessoas que reconhecem Portugal como tendo uma excelente aproximação às hepatites virais, mas queremos melhor”, começou por reconhecer o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV) da Direção-Geral da Saúde (DGS), Rui Tato-Marinho, ao mencionar a sua intenção em listar alguns pontos importantes para o controlo e possível erradicação da hepatite C a nível nacional.
“Desejamos que ninguém veja as hepatites apenas como letras. Por trás de letras e números, estão pessoas que morrem jovens”, alerta o diretor do serviço de gastrenterologia e hepatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa-Norte (CHULN). “É fundamental fazer-se um balanço de atuação e perceber se a promoção de mais testes e tratamentos vale a pena, especialmente em doenças com potenciais oncológicos”.
Outra mensagem merecedora de atenção é a necessidade de “colocar as análises dirigidas ao fígado em avaliações de saúde geral”, para, “em termos de prevenção, “dar saúde” às pessoas que têm análises alteradas”. Ainda, “uma das prioridades é a questão dos dados epidemiológicos”, sendo essencial “trabalhar com o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) neste sentido”, disse Rui Tato-Marinho.
“Quando podemos esperar a eliminação da hepatite C em Portugal?”, perguntou Guilherme Macedo. “O objetivo é até 2030, para cumprir os objetivos da OMS, organização da qual Portugal é membro integrante com responsabilidades muito importantes, agora acrescidas, porque agora temos um programa nacional das “Hepatites Virais” com investimento humano e económico”. Acima de tudo, “o acesso à terapêutica curativa e rapidamente preventiva do cancro do fígado é um dos grandes objetivos” para que a sua erradicação se torne uma realidade, confirma o gastrenterologista.
Ainda no que concerne as hepatites víricas, os tratamentos já disponíveis e a necessidade de novas intervenções terapêuticas foram o mote da apresentação da chefe do Hospital General Universitari Valle Hebron em Barcelona, Maria Buti. “Temos um tratamento fantástico, oral, com fármacos muito seguros e muito bem tolerados. Sabemos que suprimem a replicação viral, que diminuem a inflamação hepática e regridem as cirroses, mas não são capazes de eliminar o risco de cancro hepático”.
Assim, exige: “queremos novos tratamentos para conseguir a cura funcional e queremos atingir este objetivo com um tratamento de duração limitada”. Após enunciar os vários medicamentos disponíveis e aqueles que se encontram em desenvolvimento, Maria Buti reconhece que, para atingir a cura, “provavelmente será necessário combinar vários fármacos: um antiviral direto, um inibidor da produção de antígenos e outro que estimule o sistema imunitário”.
Na sua apresentação, também o vírus da hepatite delta recebeu destaque. De acordo com a professora de Medicina, este só “afeta os portadores do vírus B e calcula-se que há entre dez e vinte milhões de pessoas infetadas”. “Sabemos que os pacientes que têm infeção pelo vírus B e delta têm o pior prognóstico das hepatites virais: são aqueles com maior risco de cirrose e cancro hepático”, assumiu.
“Porque é tão difícil fazer o diagnóstico para a hepatite delta?”, interveio, para concluir, o infeciologista Fernando Maltez. “Um dos problemas mais cruciais da hepatite delta é a falta de consciência sobre ela. Se se investir na testagem, os números vão aumentar”, retorquiu Maria Buti.
SO