15 Abr, 2020

Remdesivir, a grande esperança para derrotar a Covid-19?

Há vários ensaios a decorrer, de modo a tentar provar a eficácia e a segurança do fármaco. Um deles já terminou e mostra resultados animadores. Gilead acelera a produção.

Antes de a comunidade científica conseguir construir uma vacina que demonstre segurança e eficácia, e que possa imunizar a população mundial, muitos doentes infetados com coronavírus têm de ser tratados com os fármacos que existem. Um deles é o Remdesivir, um antivíral injetável utilizado em ambiente hospitalar (desenvolvido para combater outros vírus incluindo, nomeadamente o Ébola, MERS e  SARS CoV-1) e que tem mostrado bons resultados em doentes.

Este medicamento não está ainda aprovado no mercado e por isso tem vindo a ser administrado a título experimental, através de pedidos de autorização especial. A Gilead Sciences, a farmacêutica que produz o fármaco, garante ao SaúdeOnline que já “forneceu Remdesivir a título compassivo para tratar mais de 1000 doentes com infeção COVID-19 confirmada e grave nos Estados Unidos, Europa e Japão”. Em Portugal, já foram aprovados pelo Infarmed pelo menos três tratamentos com Remdesivir.

Outros doentes estão a receber o medicamento através de ensaios clínicos, um pouco por todo o mundo. “A Gilead tem vários ensaios clínicos em andamento”, garante o diretor médico da empresa, Merdad Parsey. “A Gilead está ainda a realizar dois estudos clínicos de Fase 3 que avaliam a segurança e eficácia de Remdesivir e que estão a envolver doentes em países com elevada prevalência de COVID-19, como a Itália, França e Espanha”.

Um ensaio já está concluído. Num total de 53 doentes hospitalizados com complicações graves causadas pela Covid-19, verificou-se uma melhoria clínica na maioria deles. Os dados, publicados no New England Journal of Medicine, são animadores: o tratamento com remdesivir permitiu reduzir o nível de suporte de oxigénio em 68% dos doentes (durante um acompanhamento médio de 18 dias a partir da primeira dose), sendo que mais da metade dos pacientes em ventilação mecânica foram extubados e quase metade de todos os pacientes recebeu alta do hospital após o tratamento com remdesivir. 13% morreram.

Apesar de promissor, o ensaio tem algumas limitações. Falta-lhe, por exemplo, um grupo de controlo para se fazer uma comparação sólida. “Não podemos tirar conclusões definitivas desses dados, mas as observações deste grupo de pacientes hospitalizados são esperançosas”, diz Jonathan D. Grein, Diretor do Serviço de Epidemiologia do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, onde decorreu o estudo.

Apesar de manter as necessárias cautelas e avisar que faltam conhecer os resultados de outros estudos de fase 3 em andamento, a própria Gilead “está já a implementar várias estratégias em paralelo para acelerar o fabrico e, assim, poder disponibilizar de forma mais alargada este medicamento”. “Começámos agora a fabricar remdesivir nas nossas próprias instalações fabris, além de estarmos a trabalhar com uma rede ampliada de parceiros externos”, acrescentar a empresa.

A esperança em torno deste fármaco começou a aumentar quando, ainda numa fase inicial do combate à epidemia, algumas equipas médicas começaram a apostar no Remdesivir perante a ausência de um tratamento. O caso mais mediático é o do primeiro infetado dos Estados Unidos, um homem de 35 anos, que melhorou quando tomou o medicamento, numa altura em que já estava há 6 dias internado.

O Remdesivir, que pode ser administrado por via intravenosa num período até 10 dias, bloqueia a entrada do vírus nas células e ajuda a prevenir a replicação do vírus. O SARS-Cov 2, segundo aponta um grupo de médicos de Wuhan, “entrelaça-se de modo particularmente eficiente na enzima que está na superfície da células humanas”.

TC/SO

 

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