Prémio Bial de Medicina Clínica: Um “estimulo“ ao desenvolvimento da investigação em Portugal
As candidaturas à 22.ª edição do Prémio Bial de Medicina Clínica abrem a 1 de janeiro e decorrem até 31 de agosto de 2026. Com um valor global de 120 mil euros, o galardão pretende distinguir uma obra original de investigação clínica, de tema livre, que represente um contributo de elevada qualidade e relevância científica. O júri desta edição é presidido pelo médico reumatologista, professor catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa e multipremiado, Jaime Branco.

O que o motivou a presidir ao júri desta edição do Prémio Bial de Medicina Clínica?
Aceitei o convite que me foi feito pelo Dr. Luís Portela porque considero que este é, provavelmente, o prémio de investigação clínica mais prestigiado em Portugal, com 40 anos de existência, entregue de forma consistente e continuada. Num panorama ainda pobre em termos de estímulo à investigação clínica no país, este prémio representa um verdadeiro oásis no meio de um deserto que continua a ser o estímulo à investigação clínica e que, de certo modo, é inexplicável. Por outro lado, já tinha sido vogal do júri nas edições de 2022 e 2024.
Na sua opinião, quais são as áreas da medicina que mais necessitam de investigação clínica nos próximos anos e que gostaria de ver refletidas nas candidaturas?
Todas as áreas necessitam de investigação clínica feita em Portugal. Embora a generalidade das patologias se comporte de forma semelhante em todo o mundo, existem sempre características e circunstâncias próprias que podem gerar diferenças e que devem ser exploradas pelos investigadores.
Refiro-me à investigação clínica de iniciativa do investigador — não a ensaios clínicos de fármacos, que não estão incluídos aqui —, uma área que carece de desenvolvimento em Portugal. É verdade que estamos muito melhor do que há uma ou duas décadas, ou do que quando o prémio teve início, que provavelmente também contribuiu para esse desenvolvimento. Hoje há mais médicos a fazer investigação clínica, com boa qualidade, metodologias corretas e revisões extensas da literatura. É importante aproveitar esta nova geração, mais bem preparada, para desenvolver este tipo de investigação.
Qualquer área da medicina beneficia com isso, e não falo apenas da medicina clínica, mas também da epidemiologia, ainda pouco desenvolvida em Portugal. Exige metodologias mais pesadas, com períodos de observação e inclusão mais prolongados e, provavelmente por isso — e por falta de financiamento —, continua pouco explorada. O financiamento em Portugal dirige-se sobretudo para a investigação básica, raramente para a clínica. Esperamos que as alterações anunciadas pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação possam mudar esta situação.
Ainda assim, estes prémios já são também um incentivo…
Sem dúvida, até pelo valor pecuniário envolvido, que é elevado. Se esse valor for aplicado, mesmo que parcialmente, em nova investigação — como penso que acontece na maioria dos casos — terá certamente impacto na produção científica nacional.
O senhor professor já foi candidato em edições anteriores. De que forma essa experiência o marcou?
Fui candidato e ganhei nas duas vezes em que concorri: em 2008 e em 2016. Em 2008 não fui o primeiro autor, foi o Professor João Eurico Fonseca. Em 2016, sim, fui primeiro autor. Eram prémios diferentes: em 2008 ganhámos o Prémio Bial e, em 2016, venci o Grande Prémio Bial de Medicina.
Foram experiências distintas, mas ambas de grande importância. Não apenas por termos vencido, o que fortalece muito as equipas de investigação, mas também pelo trabalho necessário antes da candidatura.
Por isso é tão relevante o pré-anúncio: mesmo que as inscrições só abram em janeiro, a verdade é que não se pode preparar um trabalho vencedor em dias. São precisos meses de preparação, provavelmente já com resultados prévios, discussão, conclusões e publicações. Há sempre muito trabalho por trás, seja de uma equipa ou de um autor individual. Isso exige coordenação e esforço, que não podem ser ignorados.
Esta experiência como candidato e vencedor altera a sua perspetiva agora enquanto presidente do júri?
Não necessariamente, mas a experiência é sempre importante. Já tive ambas: concorrer e ser júri como vogal. Agora, como presidente, naturalmente aproveitarei essas vivências.
A presidência é tranquila, porque a metodologia usada nos anos anteriores está bem estruturada e resultou. Irei replicá-la, com algumas nuances pessoais, mas sem grandes mudanças. O que está bem feito deve manter-se. Claro que as nossas circunstâncias e experiências são sempre somadas àquilo que somos.
Que mensagem gostaria de deixar aos investigadores que se vão candidatar?
Antes de mais, uma mensagem de estímulo: que todos os colegas que fazem investigação clínica pensem em concorrer, se não for já, pelo menos um dia. Este prémio é muito importante e é um incentivo para trabalharem e desenvolverem trabalhos para apresentar.
É também fundamental que preparem os trabalhos de forma programada e atempada. Quem quer concorrer agora deve começar já e não perder mais tempo, porque faltam apenas três meses para abrir o prazo de entrega e isso não é muito. Portanto, devem trabalhar desde já nesse sentido.
Desejo ainda boa sorte a todos. O júri prefere sempre avaliar trabalhos de qualidade, porque é mais desafiante e prazeroso. Mesmo que torne a decisão mais difícil, é isso que queremos: que a escolha seja complicada por existirem várias candidaturas muito boas.
SM
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