22 Jan, 2021

Portugal “comprou ventiladores e exportou enfermeiros”. 1230 profissionais emigraram em 2020

A bastonária dos Enfermeiros lembra que há 20 mil enfermeiros portugueses a trabalhar no estrangeiro.

Perante o aumento da pressão no SNS, com muitas equipas de enfermagem reduzidas ao mínimo perante a necessidade de abrir camas para doentes com Covid-19, a bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, lamenta que Portugal não vá buscar os mais de 20 mil enfermeiros que estão a trabalhar no estrangeiro e que ainda tenha deixado partir 1.230 durante o ano da pandemia, em 2020.

“Tornámo-nos num país que comprou ventiladores, que importou ventiladores e exportou enfermeiros”, sublinhou.

O vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros (OE), Luís Barreira, disse, por sua vez, que os profissionais estão hoje confrontados com “o sofrimento ético”.

“Um enfermeiro numa urgência para 30 doentes ou um enfermeiro numa unidade de cuidados intensivos para três ou quatro quando o rácio preconizado é de um para um isto leva obrigatoriamente à falta de cuidados de qualidade que os doentes deveriam ter e que obrigatoriamente com este número e com esta afluência de doentes no serviço de urgência é impossível”, lamentou Luís Barreira.

Os responsáveis da OE, ouvidos ontem na Assembleia da República, apelaram também ao Ministério da Saúde para que crie uma política que permita fixar os enfermeiros e que permita regressar os que estão no estrangeiro.

Bastonária denuncia vacinação indevida

Para além disso, a bastonária dos enfermeiros denunciou situações de pessoas que estão a ser vacinadas contra a covid-19 que não têm contacto direto com doentes, classificando esta situação “própria de um país saloio” que tenta vacinar “os amigos da instituição”.

A bastonária adiantou que têm chegado à Ordem dos Enfermeiros situações que, apesar de serem pontuais, “são importantes e que se estão a agravar com o início da vacinação dos lares, em que estão a vacinar primeiro pessoas que não têm contacto direto com doentes ao invés de enfermeiros, médicos e assistentes operacionais”.

“Isto é próprio de um país saloio que tenta vacinar aqueles que conhecem, os amigos da instituição, e alguém tem que ir verificar o que é que se está a passar”, apelou numa audição conjunta por videoconferência com o bastonário da Ordem dos Médicos no parlamento.

Segundo a bastonária, esta situação está a passar-se nalgumas instituições do país, adiantando que a OE já enviou estes relatos para a Assembleia da República e que irá continuar a fazê-lo porque “entende que tem que haver culpados daquilo que acontece”.

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