“Os oftalmologistas não podem continuar a discutir Oftalmologia apenas com oftalmologistas”
Sérgio Azevedo é coordenador do projeto OFTALGEST e faz uma antevisão do II OFTALGEST, que vai decorrer nos dias 18 e 19 de maio, em Viana do Castelo. Ao SaúdeOnline destaca alguns dos temas em debate num evento que visa juntar oftalmologistas, mas também gestores, administradores e responsáveis políticos.
Qual o principal objetivo do OFTALGEST?
O OFTALGEST pretende abordar a evolução do sistema de saúde, tendo como ponto de partida uma das suas especialidades mais representativas: a Oftalmologia. Para tal promove o envolvimento de todos os stakeholders do sistema de saúde, procurando aproximar as suas perspetivas, as suas prioridades e as suas estratégias. Representa uma oportunidade para uma nova cultura.
Vão ter sessões sobre a Oftalmologia Central e a Periférica. Quais os principais temas que estarão em cima na mesa? A crise atual do SNS e a acessibilidade à especialidade é uma delas?
Estas sessões abordarão a realidade dos Serviços de Oftalmologia de Hospitais Centrais e Periféricos. Que dificuldades enfrentam e, sobretudo, que soluções e que propostas para o futuro. O acesso é sem dúvida um dos maiores desafios da Oftalmologia, bem como do SNS de forma transversal. Recursos humanos, eficiência, modelos de organização e financiamento serão também abordados.
“… a Oftalmologia tem sido, nos últimos anos, a especialidade mais solicitada pelos CSP, a que mais consultas e cirurgias realiza. E ainda assim, é das especialidades com maiores dificuldades no acesso”
Neste âmbito, estará também em causa a distribuição regional dos oftalmologistas em hospitais do SNS e os modelos de referenciação?
De acordo com os dados da ACSS, a Oftalmologia tem sido, nos últimos anos, a especialidade mais solicitada pelos CSP, a que mais consultas e cirurgias realiza. E ainda assim, é das especialidades com maiores dificuldades no acesso e na equidade dos seus doentes. Os médicos devem começar a olhar para além do seu hospital, mas também para o sistema de forma global e assumirem-se de forma proativa no processo de solução.
Nesse caso, poder-se-á dizer que os diferentes setores (público, privado, social) devem ser complementares ou deve haver exclusividade fora do SNS?
A coexistência dos setores público, privado e social é um facto. A complementaridade vai muito para além da coexistência. Deverão estes setores funcionarem de forma independente? Serão os atuais modelos de articulação os mais adequados? Os modelos devem ser os mesmos nos centros urbanos e na periferia? Apesar dos ratio de oftalmologistas no país ser adequado, o êxodo de profissionais do SNS para o setor privado e para o estrangeiro está na base da carência de recursos humanos no setor público. Procuraremos apresentar as razões que levam os especialistas a abandonar o SNS e que reformas seriam necessárias implementar no SNS para prevenir a perda desse capital humano.
“… existem muitos outros profissionais cujo contributo é fundamental para que especialidades como a Oftalmologia possam atingir os seus objetivos”
Vai falar sobre a Plataforma de Cuidados Primários de Saúde Visual. Em que consiste e quais as mais-valias?
Em 2018 foi definida uma Estratégia Nacional para a Saúde da Visão. Uma das propostas apresentadas passa pela criação desta plataforma, que entendemos ser fundamental para um sistema de saúde centrado no doente, que promova a prevenção, a equidade e a integração de cuidados. Tivemos a ousadia de passar este conceito do papel para a realidade. A plataforma assenta em três linhas de atividade: 1. Pontos de rastreio em Oftalmologia (PRO), já em funcionamento, 2. Pontos de Avaliação Básica em Oftalmologia (PABO) que consistem na realização de consultas de Oftalmologia nos cuidados de saúde primários, 3. e Pontos de Intervenção Única (PIU), que consistem no despiste de patologias oftalmológicas que, pela sua gravidade e prevalência, justificam uma abordagem preventiva. Apresentaremos os nossos primeiros resultados.
“Oftalmologia para além dos Oftalmologistas”. A que querem dar destaque nesta mesa?
Os oftalmologistas não podem continuar a discutir Oftalmologia apenas com oftalmologistas. A Medicina evoluiu muito. O seu exercício é hoje indissociável da gestão, da economia, da tecnologia. Além disso, existem muitos outros profissionais cujo contributo é fundamental para que especialidades como a Oftalmologia possam atingir os seus objetivos: médicos de Medicina Geral e Familiar, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos, entre outros. Este painel serve também de reconhecimento da importância dessas tendências e desses profissionais e da sua integração na Oftalmologia.
Texto: Maria João Garcia
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