14 Jul, 2021

Ordem dos Médicos quer adicionar mortes e internamentos à matriz de risco

Especialistas dizem que atual matriz “é lenta” e “são precisos indicadores mais rápidos”. Ministra da Saúde já recebeu proposta com a nova matriz.

Uma equipa de especialistas apresentou hoje um novo indicador, que acrescenta uma avaliação da gravidade, para determinar o estado da pandemia de covid-19 e esperando agora que este seja adotado pelas entidades competentes como futura matriz.

Na sessão de apresentação do indicador, na Ordem dos Médicos, em Lisboa, o matemático Henrique Oliveira, especialista em sistemas dinâmicos, explicou que os dois indicadores que compõem a atual matriz de risco “não chegam” e “começam a dar uma visão parcial do problema”.

A proposta hoje apresentada, que resultou de um “trabalho de equipa” de especialistas do Instituto Superior Técnico e da Ordem dos Médicos, não deita fora os dois indicadores existentes – incidência e transmissibilidade (Rt) –, mas complementa-os com mais três: letalidade, internamentos em enfermaria e internamentos em unidades de cuidados intensivos (UCI).

O novo indicador pode ser usado em qualquer sítio e a qualquer escala, permitindo que se adotem medidas adaptadas a regiões ou concelhos.

“É um indicador feito com conhecimento científico”, acrescentou Henrique Oliveira, considerando que a atual matriz “é lenta” e “são precisos indicadores mais rápidos”.

É uma ferramenta interessante para achatar a curva”, resumiu o bastonário da Ordem dos Médicos, na mesma sessão.

O novo indicador assenta em dois pilares: mantém a atividade, com as dimensões já aplicadas da incidência e da transmissibilidade (Rt); e acrescenta a gravidade, com as dimensões da letalidade, dos internamentos em enfermaria e dos internamentos em UCI.

“Estamos sempre a correr atrás da pandemia”, lamentou Henrique Oliveira, considerando que as medidas em vigor para responder à pandemia estão “sempre com atraso”.

“O combate à pandemia exige reuniões de equipas especializadas em cima do acontecimento, não se pode esperar uma semana para reagir”, alerta.

Além disso, “a incidência acumulada a 14 dias é um indicador fraco”, que impede a rapidez na resposta. No entender do especialista, essa incidência devia ser “usada a sete dias, no mínimo”.

O que impede um pior cenário é a vacinação, “que não está a falhar”, concluiu.

Os especialistas foram unânimes em considerar a vacinação a chave do controlo da pandemia.

“Se, nesta altura, não houvesse vacinação, as circunstâncias seriam semelhantes às de janeiro e fevereiro”, sublinhou Henrique Oliveira,

Recordando que “as novas variantes serão sempre piores e mais transmissíveis”, o especialista salientou a “flexibilidade” do indicador proposto.

De acordo com o indicador, Portugal está, nesta altura, nos “92,3, um bocadinho abaixo da ebulição [que se dá aos 100]”, esclareceu Henrique Oliveira.

Convencido de que “a vacinação está a ter efeito e a puxar os indicadores para baixo”, o matemático explicou que, mesmo se a incidência subir aos quatro mil casos por dia (o que já não lhe parece “tão provável”), o indicador subirá “ao máximo de 94/95 e depois vai descer”.

Henrique Oliveira acredita que “a incidência vai descer dentro de 10 a 15 dias”.

Portugal sé esteve “em ebulição” entre outubro e final de fevereiro. “Sem vacina, estaríamos acima do nível crítico outra vez, nesta altura”, notou.

Miguel Guimarães adiantou na sessão que a ministra da Saúde já recebeu a proposta de novo indicador e que esta sabia que havia uma equipa a trabalhar o assunto há mais de um mês – a Ordem dos Médicos referiu-o pela primeira vez a 07 de junho.

“O Presidente da República já tem conhecimento [sobre o indicador], o Governo terá de decidir”, afirmou, sublinhando que a Ordem dos Médicos está disponível para prestar esclarecimentos sobre a nova ferramenta, que classifica como “democrática”, porque “pode ser feita em casa, por qualquer um”.

Sublinhando que aos especialistas compete “apresentar soluções e fazer recomendações”, o bastonário frisou que “era importante que quem tem responsabilidade olhasse e levantasse questões”.

Este indicador “devia substituir a atual matriz de risco”, defende o bastonário. Porém, reconheceu, “há várias coisas” que a Ordem propôs e que “não foram adotadas”, dando como exemplo o “apelo urgente” para que os médicos de família sejam libertados das “tarefas covid” e “se contrate médicos fora do Serviço Nacional de Saúde” para as realizar.

Aliás, “desde que tomou posse como ministra, [Marta Temido] fez zero reuniões com a Ordem dos Médicos”, lamentou, assinalando que “também as decisões políticas podem salvar vidas”.

SO/LUSA

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