OMS retoma ensaios com hidroxicloroquina. Estudo que levou à suspensão posto em causa
Os ensaios clínicos foram suspensos há mais de uma semana, devido a um estudo publicado na revista científica The Lancet, que está agora a ser alvo de auditoria.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, anunciou na conferência de Imprensa de acompanhamento da pandemia que o painel que analisa a segurança de medicamentos concluiu que “não há razão para alterar o protocolo dos ensaios clínicos solidários e recomendou que continuem em todas as vertentes”.
Assim, os ensaios clínicos com a hidroxicloroquina vão continuar no grupo de mais de 3.500 pacientes voluntários de 35 países.
A OMS vai continuar a “controlar a segurança” do uso do medicamento
No dia 25 de maio, o Comité Executivo tinha decidido suspender o uso de hidroxicloroquina depois de na revista científica The Lancet ter surgido um estudo em que se observou mortalidade acrescida em doentes tratados com aquele medicamento.
O anúncio da retoma dos ensaios clínicos surge depois de a revista médica The Lancet ter emitido um alerta sobre o estudo criticado que publicou sobre a hidroxicloroquina, reconhecendo nesse aviso formal que foram levantadas “questões importantes” sobre este trabalho, que está agora ser alvo de uma auditoria lançada pelos próprios autores.
O alerta foi divulgado na noite de terça-feira sob a forma de “expressão de preocupação”, uma declaração formal usada por revistas científicas para indicar que um estudo é potencialmente problemático.
Os dados usados neste estudo são da Surgisphere, que se apresenta como uma empresa de análise de dados em saúde com sede nos EUA, segundo a agência AFP.
Muitos investigadores expressaram dúvidas sobre o estudo publicado
Uma investigação do diário britânico The Guardian revelou que a equipa de funcionários da Surgisphere inclui um autor de ficção científica (listado como editor de ciência da empresa) e um modelo de conteúdos para adulto (alegado director de marketing). É ainda destacado que vários funcionários da empresa revelam ter pouca ou nenhuma experiência científica e que “embora a Surgisphere alegue ter uma das maiores e mais rápidas bases de dados de hospitais do mundo, praticamente não tem presença online”.
O jornal refere que a OMS e vários governos alteraram as suas políticas relativamente ao tratamento da covid-19 com base em dados alegadamente errados, divulgados por uma empresa pouco conhecida, que fizeram com que fossem levantadas questões sobre a integridade de estudos importantes, publicados nalgumas das revistas médicas mais prestigiadas do mundo, como a Lancet e a New England Journal of Medicine.
Numa carta aberta divulgada na semana passada, dezenas de cientistas expressaram preocupação sobre este trabalho e revelaram que um exame detalhado levantou questões de metodologia e de integridade dos dados, apontando a recusa dos autores em dar acesso total aos dados e a falta de “revisão ética”.
SO/LUSA/Público
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