Obesidade. A cirurgia ambulatória permite dar resposta a mais doentes
Gil Faria é cirurgião especialista em Obesidade e Metabolismo e coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e apela a que se olhe para a obesidade como uma doença incapacitante. Tendo sido pioneiro na cirurgia da obesidade em ambulatório, a nível da Península Ibérica, defende uma maior aposta neste tipo de intervenção em doentes de baixo risco, para que haja mais pessoas com aceso ao tratamento.

Qual a prevalência da obesidade em Portugal? Continua a ser um grave problema de saúde?
Sim, tal como na maioria dos países ocidentais, as taxas de obesidade têm mantido uma tendência crescente. Em Portugal, estima-se em 63% a taxa de excesso de peso e em 24% a taxa de obesidade, sendo que nas crianças e adolescentes ronda os 17%. São percentagens assustadoras e preocupantes, é preciso olhar de frente para o problema da obesidade – que é uma doença, reforço – para que se consiga ajudar estes doentes. A obesidade é reconhecida como doença, em Portugal, há 20 anos, mas, infelizmente, a maioria da população ainda considera que se trata de uma condição que surge por causa de comportamentos errados.
Foi pioneiro na realização de cirurgia da obesidade em ambulatório. Quais as mais-valias desta intervenção comparativamente à tradicional?
Estima-se que, a nível global, apenas 1% dos doentes com indicação para cirurgia consegue chegar a este tratamento. Com a cirurgia de ambulatório é possível ajudar os doentes de menor risco, numa intervenção segura. No Hospital de Pedro Hispano começámos o programa de cirurgia bariátrica em ambulatório em abril de 2021, o que nos permitiu, a nível institucional, aumentar cerca de 30% a nossa capacidade de resposta. A redução das complicações pós-operatórias, a ausência de drenos e a evolução no equipamento técnico permitem que o doente possa ter alta no mesmo dia, com toda a segurança.
Que técnicas cirúrgicas utilizam?
O sleeve gástrico, o bypass gástrico em Y de Roux e o mini bypass gástrico.
“A obesidade é uma doença incapacitante, que exige recursos humanos e técnicos. É preciso combater o estigma”
Quais são os doentes elegíveis?
São os que apresentam um baixo risco, ou seja não têm complicações associadas a patologias crónicas ou problemas de coagulação. Em suma, tem de se ter em conta fatores como a complexidade da cirurgia, doenças associadas, risco anestésico-cirúrgico e disponibilidade de apoio domiciliário após a intervenção. Primeiramente, também não se incluíam os casos de reintervenções, contudo, com a experiência que se tem adquirido ao longo dos anos, isso tem mudado, desde, obviamente, que não haja determinadas complicações e riscos.
Há mais centros a fazer cirurgias em ambulatório?
Sem pernoita, somos o único. Com pernoita há mais alguns. Na técnica de bypass continuamos a ser o único. Esperemos que a nossa experiência seja replicada no país, para que mais pessoas possam ter acesso ao tratamento. Existem listas de espera muito grandes, apesar de, nos últimos anos, haver mais respostas em diferentes regiões.
No futuro, é preciso apostar-se mais na formação e em recursos? Essa é a solução para se chegar a mais doentes?
Sim, nem todos os cirurgiões têm competência para este tipo de cirurgia, mas o principal problema é a falta de vontade política, inclusive das unidades hospitalares, para que se aposte mais neste tipo de tratamento. A obesidade é uma doença incapacitante, que exige recursos humanos e técnicos. É preciso combater o estigma.
MJG
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