Vogal da Direção da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e Cardiologista, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Portugal.
“O diálogo entre médico e doente é fulcral para contextualizar o risco cardiovascular”
A hipertensão arterial é um fator de risco para doenças cardiovasculares, nomeadamente AVC e doença coronária, contribuindo também para o risco de doença renal crónica e retinopatia. Para evitar estas morbilidades, é necessário diagnosticar, conhecer, tratar e controlar a hipertensão arterial e todos estes aspetos advêm de uma colaboração entre a comunidade e cuidados de saúde no geral.
De acordo com o estudo e COR desenvolvido entre 2012 e 2014, a prevalência da hipertensão arterial foi de 43.1% (em linha com estudos anteriores, nomeadamente PAP 42.1%).
Do total de hipertensos, 63% conheciam a morbilidade e apenas 32% tinham a hipertensão controlada.
O diagnóstico é feito com a medição da pressão arterial, que é um gesto maioritariamente inócuo e informativo, podendo ser realizado através da medição em consultório, através do registo ambulatório da pressão arterial de 24 horas (MAPA 24 horas) ou através da auto-medição da pressão arterial, seguindo as regras definidas para este efeito.
O conhecimento de que é hipertenso e o diálogo entre médico e doente, são fulcrais para contextualizar o risco cardiovascular, mas também para estabelecer objetivos nas estratégias de terapêutica e monitorização.
O tratamento tem como base a terapêutica não-farmacológica (exercício, redução da ingesta salina, e para os casos indicados perda ponderal ou cessação tabágica), sendo que numa parte importante dos doentes virá beneficiar de terapêutica farmacológica
Para o controlo da hipertensão, aspeto claramente suboptimo, é necessário uma melhorar a adesão terapêutica utilizando esquemas terapêuticos simples. Também é necessário referir que os alvos tensionais da janela temporal da execução do estudo e_COR são mais conservadores que os atuais, pelo que o atual controlo da hipertensão poderá ser menor do que o estimado. As guidelines da ESC/ESH de 2018 recomendam que PA sistólica deverá ser 130 mmHg ou mais baixo, até 120 mmHg se tolerado pelo doente (i.e. sem tonturas, cefaleias, agravamento do cansaço…), e nas pessoas com mais de 65 anos o alvo situa-se entre os 130-140 mmHg para a pressão arterial sistólica se tolerado. Para todos os doentes hipertensos a pressão arterial diastólica alvo situa-se entre 70-79 mmHg.
Para alcançar estes objetivos o doente deverá ser monitorizado, mas também monitorizar a sua pressão arterial de forma a fornecer os dados necessários a receber o tratamento adequado.
Referências
- http://www.insa.min-saude.pt/prevalencia-de-fatores-de-risco-cardiovascular-na-populacao-portuguesa-relatorio-estudo-e_cor/ (acesso a 1 de Julho de 2021)
- ESPIGA, MÁRIO, et al. Prevalência, conhecimento, tratamento e controlo da hipertensão em portugal. Estudo PAP [2]. Rev Port Cardiol, 2007, 26.1: 21-39.
- WILLIAMS, Bryan, et al. 2018 ESC/ESH Guidelines for the management of arterial hypertension: The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Society of Hypertension (ESH). European heart journal, 2018, 39.33: 3021-3104.