“Não há um linfoma, mas sim dezenas de variantes da doença”
Presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL)

“Não há um linfoma, mas sim dezenas de variantes da doença”

O mês de Setembro é, desde há alguns anos, dedicado à sensibilização do público em geral relativamente às doenças do sangue de natureza oncológica, ou seja, os tumores do sangue, que ocupam o 4o lugar entre as neoplasias mais frequentes.

Entre estas, os linfomas ocupam um lugar de destaque por várias razões: dentro do grupo das doenças hemato-oncológicas, são relativamente frequentes. Embora a sua incidência aumente com a idade, não deixam de atingir crianças e adultos jovens, sendo que os avanços recentes na compreensão dos mecanismos subjacentes ao seu desenvolvimento e consequente aparecimento de novas modalidades de tratamento têm despertado o interesse do público.

Na realidade, não há um linfoma, mas sim dezenas de variantes da doença, que têm em comum a sua origem nos linfócitos, um dos sub-tipos dos glóbulos brancos. Estas variantes podem ter manifestações clínicas diversas, embora as mais frequentes sejam o aparecimento de nódulos aumentados de volume, sobretudo no pescoço, nas axilas e nas virilhas. Por vezes, são acompanhados de febre, emagrecimento e cansaço. Também não é raro haver transpiração excessiva, comichão, falta de apetite e várias outras queixas.

Para que o diagnóstico possa ser confirmado e o linfoma classificado, é necessário realizar uma biópsia de um dos gânglios aumentados – por vezes, será preciso recorrer a uma biopsia dirigida por TAC, quando os gânglios não são acessíveis superficialmente. A análise do gânglio e a classificação da doença deve ser feita num centro experiente, com recurso a técnicas diferenciadas (imunohistoquímica, citogenética, citometria de fluxo e biologia molecular) e interpretada por um médico patologista em colaboração com o médico hematologista.

O diagnóstico é complementado por uma avaliação da extensão da doença, baseada na observação clínica do doente pelo médico hematologista e com recurso a outros exames que, em geral, podem implicar uma biopsia óssea, diversos TACs e um exame por PET ou PET-CT. Consoante as localizações da doença poderão ser necessários mais exames.

Nem sempre o diagnóstico de linfoma implica a necessidade de tratamento imediato, há variantes indolentes nas quais o acompanhamento regular irá determinar se, e quando, é necessário tratar. Nas formas mais agressivas da doença, pode ser necessário iniciar rapidamente o tratamento. Por vezes, mesmo antes do resultado da biopsia estar disponível.

Há, portanto, um leque muito alargado de situações, incluindo as que não necessitam de tratamento durante algum tempo e as que impõem uma intervenção rápida.

O tratamento mais comum para os linfomas de linfócitos B (por oposição aos linfócitos T), que são os mais frequentes, baseia-se em imunoquimioterapia. Esta consiste na combinação de quimioterapia convencional com um anticorpo monoclonal, em ciclos regulares, em geral num total de 6 a 8. O objectivo é obter uma resposta completa, que será avaliada no final do tratamento através da repetição dos exames realizados quando do diagnóstico.

Os linfomas B podem dividir-se em 2 grandes grupos: os linfomas foliculares e os difusos, que diferem na sua apresentação e no comportamento em relação ao tratamento. Os linfomas B difusos são curáveis com imunoquimioterapia em cerca de 60% dos casos. Já os linfomas foliculares, apesar de responderem muito bem ao tratamento, têm tendência para recair, necessitando de novos tratamentos, escolhidos consoante a natureza da doença, as características do doente e a sua preferência.

Em todo este processo, o doente terá uma palavra a dizer e o envolvimento de um cuidador é da maior importância.

As associações de doentes, como a APCL, têm nos seus sites informação mais detalhada sobre cada doença e promovem regularmente eventos que visam contribuir para a literacia dos doentes, familiares e cuidadores. No entanto, é junto da equipa médica que o acompanha que o doente deve esclarecer as suas dúvidas e procurar apoio a propósito de complicações que com frequência surgem durante os tratamentos.

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