27 Dez, 2023

Médicos trabalham em modo de “medicina de catástrofe” nos últimos dias do ano

A acusação é da Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Em comunicado, alerta para os riscos que existem quer para médicos quer para doentes em vários serviços de Urgência.

 

“Os médicos estão sobrecarregados, sem condições adequadas ao exercício das suas funções e a praticar “medicina de catástrofe” em vários serviços de urgência (SU), onde um volume excessivo de doentes dá entrada na última semana do ano”, lê-se no comunicado.

O encerramento e condicionamento de quase metade dos SU de norte a sul do país é visto pela FNAM como “algo que se tornou trivial neste Ministério da Saúde liderado por Manuel Pizarro”, que “não soube atrair e fixar médicos”.

A FNAM alerta para “as insuficiências” que se multiplicam nesta época do ano, face ao aumento de doentes a dar entrada nas urgências. E destaca o caso do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), no Porto, “onde médicos internos têm sido forçados a colmatar a falta de médicos especialistas”.

“Há dias com um único médico interno a assegurar urgência externa de Medicina Interna, e em simultâneo pelo menos 140 doentes internados a cargo dessa especialidade, sem médico especialista na escala de urgência interna, situação que se prevê que se mantenha a partir de janeiro.”

Ainda relativamente à atual situação que se vive no CHUdSA, a FNAM afirma que os médicos têm sido “vítimas de desregulação ilegal dos seus horários, com 6 dias de trabalho semanal, sem que lhes seja concedido o descanso compensatório após a realização de trabalho aos domingos e feriados”.

Acresce ainda a regularização do pagamento da majoração do trabalho suplementar aos internos e dificuldade na marcação de estágios opcionais fora da instituição, de acordo com a mesma fonte.

Outro caso é o do Centro Hospitalar de Leiria, com serviços dependentes de apenas dois médicos especialistas e dois internos de formação geral no Natal, que “não têm a experiência necessária para praticarem atos médicos de forma autónoma”.

“Durante a noite da véspera de Natal todo o hospital esteve entregue a 1 especialista, 2 generalistas e a 2 internos do 1º e do 2º ano.”

Todas as outras especialidades de urgência estiveram encerradas, segundo a FNAM. “A Medicina Interna esteve fechada desde a noite de 24, e mesmo assim não pararam de chegar urgências por meios próprios e doentes por ambulâncias sem contacto com CODU, aumentando o risco médico-legal para os médicos e a segurança dos doentes.”

A Sul, no Algarve, há alguns serviços a alternar entre os hospitais de Faro e de Portimão, mas “sem capacidade de assegurar o funcionamento em simultâneo”. É o caso da Pediatria, da Ginecologia-Obstetrícia, da Gastrenterologia e da Urologia.

A FNAM disponibiliza assim aos médicos uma declaração de declinação de responsabilidade funcional com “o objetivo de rejeitar toda e qualquer responsabilidade decorrente da prática de atos médicos, sempre que estejam perante condições inadequadas ao exercício das suas funções”.

MJG

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