Lipedema e Linfedema: Compreensão e Distinção
Cirugiã vascular, Leg Clinic® by Allure

Lipedema e Linfedema: Compreensão e Distinção

O lipedema (muito frequente) e o linfedema (ocorrendo felizmente bem mais raramente) são condições médicas que afetam predominantemente os membros e que se caracterizam por um aumento de volume, levando muitas vezes a confusão entre as duas entidades. São, contudo, doenças distintas, com apresentações, causas e tratamentos específicos.

O lipedema é uma condição crónica do tecido conjuntivo que se caracteriza por uma acumulação desproporcional de gordura nos membros, predominantemente nos inferiores. Esta doença ocorre quase exclusivamente em mulheres, podendo surgir em momentos de alteração hormonal súbita, como a puberdade, a gravidez, início, troca ou suspensão do uso de contraceção ou outras medicações hormonais, ou, mais tarde na menopausa.

No lipedema, o aumento de volume poupa as extremidades (mãos e pés), criando, muitas vezes, um “sinal de garrote” nos tornozelos ou nos punhos, que é distintivo. Apesar de muitas vezes ser associado à obesidade, a gordura do lipedema é resistente ao exercício físico e às tradicionais dietas hipocalóricas, levando a grande frustração por parte das pacientes.

Já o linfedema é um verdadeiro edema, decorrente do funcionamento deficiente do sistema linfático. A base do seu tratamento é o descongestionamento, isto é, a verdadeira promoção de medidas de combate ao edema. O linfedema é mais frequentemente unilateral e envolve o membro, tipicamente, desde a sua extremidade (pé ou mão). Típica, ainda que não exclusivamente, começa no dorso do pé (ou da mão) e progride superiormente. Os dedos habitualmente também estão afetados com pregas da pele muito pronunciadas na sua base.

As causas podem ser variadas. Pode tratar-se de um linfedema primário, geneticamente determinado, muitas vezes presente desde o nascimento e que se vai agravando com o crescimento. Mas pode também estar relacionado com algum evento específico que implicou a lesão do sistema linfático previamente normal: traumatismos, infeções, cirurgias, tratamentos relacionados com doença oncológica… Este linfedema, dito secundário, poderá ocorrer vários anos após o evento que causou a lesão linfática.

Há fatores que aumentam o risco de desenvolver e agravar quadros de linfedema secundário:

  • idade avançada;
  • inflamação local crónica;
  • excesso de peso.

Nos Estados Unidos da América, o cancro e os seus tratamentos são a causa mais comum de linfedema secundário. No entanto, do ponto de vista mundial, a causa mais comum de linfedema secundário é a filaríase, uma infeção parasitária tropical, transmitida por picada de mosquito em áreas endémicas.

O linfedema, contrariamente ao lipedema, raramente se acompanha de dor e afeta tanto homens como mulheres.

Ambas as condições, embora distintas, podem apresentar desafios significativos no diagnóstico e tratamento. Tal pode ser ainda mais desafiante na área da Oncologia em que múltiplas comorbilidades e esquemas de tratamentos complexos concorrem para quadros semelhantes e que impactam de forma dolorosa a vida do paciente.

É fundamental que os profissionais de saúde estejam cientes das diferenças entre o lipedema e o linfedema para proporcionar o tratamento adequado e personalizado. A gestão destas condições envolve, na maioria dos casos, uma abordagem multidisciplinar, incluindo cirurgia vascular, cirurgia plástica, Medicina Física e de Reabilitação.

É crucial o envolvimento do próprio paciente na gestão do seu autocuidado, só atingível mediante o esclarecimento cabal daquilo que sustenta cada medida proposta. O médico assistente que acompanha o paciente pela sua doença base (doença tantas vezes responsável por uma destas entidades) está numa situação privilegiada para o reconhecimento e orientação atempados.

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