Lápis Azul: Quem dá mais? Quem dá mais médicos de família ao país?
Portugal tem passado por alterações demográficas, sociais e económicas profundas e continuadas, marcadas pela falta de equidade em muitos domínios, aprofundando-se assim os fossos que separam cidadãos e famílias.
Os Cuidados Primários e o SNS estão no centro deste quadro de iniquidade batendo, ano após ano, todos os recordes mais infelizes e acentuando as assimetrias num país inclinado para o litoral… Onde os padrões de saúde e de doença estão em mudança acelerada.
Foi neste cenário que o atual Ministro da Saúde garantiu, em nome do Governo, que em 2019 todos os Portugueses terão médico de família.
A verdade é que olhando para o terreno, verificamos que a promessa de Adalberto Campos Fernandes está longe de ser cumprida. Pior: constatamos que contra todas as previsões – sempre otimistas – a situação é hoje pior do que a projetada pela todo-poderosa Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) em 2016!
O facto de a promessa não ser concretizada já nem nos deve espantar. Seria um milagre – logo esta – ser a única a ser cumprida. Mas havia outra, outra promessa, a da criação de 100 USF nos quatro anos de governo. Até se contava com uma Coordenação Nacional para a Reforma dos Cuidados de Saúde Primários que se tem mantido prolixa e produtiva ao longo da legislatura…
Mas nem assim, uma absoluta esterilidade em nome e imagem dos Cuidados Primários, sublinhada pelo cenário da inexistente contratualização, pela ignorância das necessidades das equipas multiprofissionais e pela desmotivação generalizada vivida na actividade de primeira linha do SNS, embrulhada numa crescente burocratização e complexificação marcada por controlos sucessivos e “controleiros”!
O curioso ou caricato passa por outra falácia. A da necessidade de criação de incentivos para a fixação dos médicos no interior do país. Fazendo dos médicos uma espécie de profissionais endeusados por contraste menos legítimo com outros de formação superior e que, também, pelas condições da vida e pelas necessidades de todo o tipo, acabam por se fixar – e enraizar – no interior …
Para a opinião pública passa a ideia do mercenário.
Mas vamos ver onde faltam médicos de família: Moscavide, Sintra, Amadora, cidade de Lisboa e Ribatejo!
Estamos entendidos sobre a necessidade de criação de incentivos para os médicos dos Cuidados Primários… Apesar do que se soube sobre os apoios e incentivos a Senhores Deputados na Assembleia da República…
O Ministro da Saúde não deve ter sido informado também da demografia dos médicos, em especial nos Cuidados Primários. O problema das centenas de reformas em 2018, 2019 e 2020 foi acautelado? Ou nem sequer foi equacionado?
Talvez não.
Soube-se há dias que o próprio Ministério das Finanças não conhece com rigor os números de trabalhadores da Administração Pública.
Pudera, ainda não “somos todos Centeno”!
Como haveria o Ministério da Saúde de ter respostas correctas para sua gestão de recursos?
Entre tantos grupos de trabalho criados, comissões nomeadas e seres pensantes nas mais diversas matérias da saúde, não há ninguém para dar uma ajuda a contar cabeças e sua distribuição?
Para a deslocalização do Infarmed para o Porto foi mais fácil… É claro.
Enfim, quem dá mais médicos de família ao país e ao SNS?
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