14 Jan, 2022

Já há mais de um milhão e cem mil utentes sem médico de família atribuído

Número de utentes sem médico aumentou ao longo do ano passado em todas as regiões. Lisboa concentra quase 70% das pessoas a descoberto.

São cada vez mais os utentes que não têm um médico de família atribuído, situação que se foi agravando ao longo do ano passado. No final de 2021, cerca de 1,1 milhões de pessoas estavam nesta situação em Portugal, avança o jornal Público, com base em dados do BI dos Cuidados de Saúde Primários e do Portal do SNS.

No final de dezembro, 10,8% das 10,4 milhões de pessoas inscritas nos centros de saúde não tinham médico de família. Esta é uma realidade que se agravou com a pandemia (contrariando a intenção do governo) em todas as regiões e que afeta sobretudo a região de Lisboa e Vale do Tejo. Esta região concentra mais de dois terços (69%) dos utentes sem médico de família – são agora 783 mil pessoas. Se olharmos para os utentes nesta situação em LVT, no mês de abril, cerca de 620 mil, percebe-se que houve um aumento significativo. Há oito meses, 16% da população de LVT estava a descoberto; agora, a percentagem escalou até aos 20%.

O Algarve mantém igualmente uma grande lacuna a este nível, com 16% da população a descoberto. Trata-se aliás de um significativo aumento dos utentes sem médico de família, uma vez que, em abril, ‘apenas’ 6,8% da população desta região estava a descoberto. Também pioraram as regiões do Alentejo (6,3% em abril e 9,5% em dezembro) e do Centro (4,8% vs 6,5%).

Noutros regiões o cenário é menos preocupante mas ainda não é o ideal. Na região Norte, com praticamente a mesma população de LVT (cerca de 3 milhões de pessoas), só 2,7% das pessoas não têm médico de família.

A contribuir para a subida do número de utentes sem médico de família estão vários fatores. Por um lado, o aumento das aposentações de médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar, cujo pico deverá ser atingido entre 2021 e 2023, com a reforma de cerca de dois mil especialistas nestes três anos. “Este pico de reformas não é compensado pelo número de especialistas que vamos formando porque esses especialistas não ficam todos no SNS”, diz, ao SaúdeOnline, Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).

Por outro lado, a incapacidade de fixar jovens médicos em zonas carenciadas e de os atrair em número suficiente para regiões como LVT e Algarve. Em LVT, por exemplo, entre 2009 e 2019, entraram na região 1.013 médicos e saíram 1.355, o que resulta numa perda de 342 médicos, segundo dados avançados pela ARSLVT. No concurso deste ano para colocação de recém-especialistas, um terço da vagas ficaram por ocupar em todo o país. “Estas vagas não são ocupadas porque são desconexas do local onde os médicos fizeram a formação. Isso não é tido em conta, não há planeamento. Por outro lado, especialmente em Lisboa e Vale do Tejo, existe uma captação grande médicos de MGF pelo privado, com condições de trabalho mais atrativas”, diz Nuno Jacinto

O governo invoca o aumento dos inscritos nos Cuidados de Saúde Primários como uma dificuldade acrescida. Apesar de admitir essa realidade, o presidente da APMGF considera que “isso não justifica o aumento dos utentes sem médico de família”. Aliás, a situação pode ser ainda pior do que aquela que os números demonstram. “A situação é mais grave do que aqui está espelhada. Existe uma franja de pessoas, migrantes com números provisórios, que não conseguimos contabilizar, porque não estão inscritos e querem ter acesso a uma equipa de saúde”, diz o vice-presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, Diogo Urjais, ao Público.

SO

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