INQUIETUDE | Vacinação em massa: Uma ambição ou realidade!
Médico de família

INQUIETUDE | Vacinação em massa: Uma ambição ou realidade!

A vacinação em massa vai ser a grande solução para podermos desconfinar em segurança. Se tivermos vacinas disponíveis, se tivermos rigor na sua distribuição pela população, se tivermos como administrá-las rapidamente, se não tivermos supresas com novas variantes do vírus, se não abrirmos as fronteiras, se não tivermos nova onda, então estaremos perto do fim do confinamento. Talvez em junho se veja a luz ao fundo do túnel!

A vacinação anti-SARS-CoV-2 – a única solução lógica conhecida para a pandemia de covid-19 – está em execução com vacinas seguras e efetivas, mas escassas. Temos um Plano de Vacinação em execução lenta, dada a indisponibilidade de vacinas. Precisamos de uma vacinação em massa e rápida.

Com cerca de um milhão e meio de vacinas inoculadas em três meses de vacinação estamos já muito bem na população de 80 e mais anos, o que é muito bom. Este é o grupo etário de maior risco e estamos já com mais de 60% de pessoas vacinadas com a primeira dose e 30% com vacinação completa.

Todavia, a vacinação no grupo etário de 65 a 79 anos está muito atrasada. Esta é uma situação muito preocupante e que é urgente resolver. As fatalidades nos doentes com covid-19 no grupo etário dos 70 aos 79 anos é superior a 6%, ou seja, muito elevada. Com a vacinação tão atrasada abaixo dos 80 anos será um risco enorme desconfinar enquanto não tivermos mais pessoas vacinadas.

Se for pensado incluir mais pessoas prioritárias nesta fase já atrasada de vacinação, então será necessário ponderar bem essa decisão política e rever o objetivo primário da vacinação. Precisamos de vacinar meio milhão de pessoas dos 65 a 79 anos para ficarmos com uma taxa de vacinados semelhante à que temos nas pessoas com mais de 80 anos.

Por ocasião da inoculação da sua primeira dose, o primeiro-ministro disse que “A vacina é um horizonte de esperança, mas é vital que mantenhamos cautela”. De facto, é necessário continuarmos a transmitir com insistência esta informação fundamental porque ainda não temos um número suficiente de pessoas vacinadas. Em média, inoculámos meio milhão de pessoas por mês no primeiro trimestre. Quer dizer, se continuássemos com este ritmo tão baixo precisaríamos de 10 meses para inocular cinco milhões de pessoas! Um absurdo! Não pode ser! É inquietante!

É necessário triplicar o ritmo de vacinação. O senhor vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, responsável pelo Plano de Vacinação, referiu recentemente que passaríamos a vacinar 90 a 95 mil pessoas por dia. Seria ótimo! No primeiro trimestre vacinámos cerca de 16 mil pessoas por dia. Serão necessários mais centros de vacinação, mais horas disponíveis, melhor utilização dos recursos humanos e mais recursos materiais. Tudo isto e rapidamente!

Parece inevitável fazer um esforço de planeamento, de programação, de distribuição e de aumento da capacidade de administração de vacinas.

Se tivermos vacinas e mais recursos conseguiremos triplicar as inoculações. Poderemos ter quatro milhões e meio de pessoas vacinadas em três meses. No final de junho estaríamos com cerca de seis milhões de inoculações. Seria o ideal para começarmos a pensar em desconfinar e termos um verão mais tranquilo.

A vacinação é a solução mais plausível conhecida no momento que vivemos. Desacreditar na vacinação seria dramático. Para dar esperança e recuperar a confiança das pessoas parece útil uma campanha de esclarecimento e um plano de investimento inequívoco, convocando todos os agentes científicos, políticos e comunitários, mas sem ziguezagues. Com uma nova imagem, uma nova vitalidade, uma nova esperança, é preciso acreditar “agora mais do que nunca”!

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