Imunidade de grupo só se deve atingir aos 85% por causa da variante delta
Quanto mais transmissível for o vírus mais difícil é atingir a imunidade de grupo, alerta o médico intensivista José Artur Paiva.
O médico intensivista José Artur Paiva admitiu que, com a variante delta, a imunidade de grupo só se deverá atingir perto dos 85% e disse que a redução da idade dos doentes internados prova a efetividade das vacinas.
Em declarações à agência Lusa, José Artur Paiva, que pertence à Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a COVID-19, sublinhou que o grande determinante do aumento de doentes em medicina intensiva é o aumento da transmissibilidade do vírus e que quanto mais transmissível for o vírus mais difícil é atingir a imunidade de grupo.
“Com esta variante [delta] o atingimento da imunidade grupo não se fará nos tais 70%, mas sim com valores muito perto dos 85% de imunização”, disse, sublinhando a importância de conter o Rt (índice de transmissibilidade).
O especialista em medicina intensiva considera que o processo vacinal em curso “está a ser capaz de ter uma efetividade grande, que se mantém com esta variante [delta], nomeadamente de evitar formas de gravidade moderada ou intensa da doença”.
Média de idades dos doentes em UCI é agora “francamente mais baixa”
José Artur Paiva recorda que a média de idade nos internamentos diminuiu “por ausência ou franca diminuição dos casos em pessoas mais idosas”, frisando: “A média de idade dos doentes em medicina intensiva é de cerca de 50 anos, francamente mais baixa do que foi nas ondas anteriores”.
“Como temos uma maior cobertura vacinal para pessoas com mais de 60 anos e com mais de 50 com outras doenças, e como sabemos que há efetividade das vacinas, mesmo em relação a esta variante que se está a tornar predominante, de facto, temos uma diminuição marcada dos casos graves. É essa a grande proteção que a vacina dá”, afirmou, lembrando que a proteção é conferida com a vacinação completa.
No fundo, acrescentou, “temos uma diminuição marcada [dos internamentos em cuidados intensivos] nessas pessoas mais idosas e até não tão idosas, mas com comorbilidades, e a manutenção de casos com pessoas mais jovens, que sempre existiram”.
José Artur Paiva lembra que com variantes mais transmissíveis, “como um determinado percentual dos casos será sempre grave, o número de hospitalizações e de internados em medicina intensiva fatalmente aumenta”. Contudo, insistiu, “aumenta menos do que aumentaria se não tivéssemos um processo vacinal em curso relativamente avançado”.
Sobre o tempo médio de internamento destes doentes, o especialista diz que “ainda é cedo” para tirar conclusões: “Vai ser muito heterogénea. (…) Há casos que respondem rapidamente a formas não invasivas de ventilação e, com poucos dias de estadia, saem. Mas também temos casos que precisam de suportes mais invasivos, até ECMO, e podem ficar muito tempo”.
Recorda que o vírus que provoca a covid-19, como qualquer vírus, “vai sempre adaptar-se e criar maneira de fazer mutações para se tornar mais transmissível”.
“Eles precisam das células do hospedeiro e o interesse do vírus não é tornar-se mais agressivo e matar o hospedeiro, mas tornar-se mais transmissível”, acrescentou o especialista, que pertence à direção do colégio da especialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos.
Além do controlo do fator de transmissibilidade e do avanço do processo de vacinação, concluindo-a nas pessoas mais idosas, vulneráveis e com comorbilidades, e avançando depois para os mais jovens, o responsável aponta a necessidade de manter os comportamentos que evitam a transmissão, como o uso de máscara, o distanciamento físico, a desinfeção das mãos e o evitar de agrupamentos de pessoas.
“Isto não quer dizer confinar novamente. Quer dizer saber viver, mas com estes cuidados”.
LUSA
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