Hipocoagulação – Quando e como?
Assistente hospitalar de Imunohemoterapia no Hospital Pedro Hispano, Coordenador da Comissão de Trabalho do Programa Patient Blood Management da ULSM, Médico regulador no CODU, Formador do INEM em SBV e SAV

Hipocoagulação – Quando e como?

A hipocoagulação tem sido ao longo dos anos a pedra fundamental no tratamento de várias entidades clínicas, quer a nível profilático quer no tratamento de eventos tromboembólicos. Faz parte do nosso dia a dia, abrangendo quase todas as especialidades, sejam do foro médico ou cirúrgico, daí a necessidade de ter o conhecimento necessário que permita adotar a melhor decisão terapêutica em cada caso.

De forma geral serão abordados dois grandes grupos de doentes, que condensam a grande maioria dos que necessitam de hipocoagulação prolongada. A profilaxia do acidente vascular cerebral e embolia sistémica nos portadores de fibrilhação auricular (FA) e o tromboembolismo venoso (TEV).

O ritmo de desenvolvimento de novos anticoagulantes acelerou. A heparina e os antagonistas da vitamina K (AVKs) foram os únicos anticoagulantes disponíveis durante a maior parte do século XX. Embora estes últimos tenham sido o pilar da terapia anticoagulante por mais de 50 anos, (AVKs) e provaram ser altamente eficazes na prevenção do tromboembolismo, seu uso é muito limitador.

Durante os últimos 15 anos, foram desenvolvidas uma nova classe de moléculas conhecidas como anticoagulantes orais não antagonistas da vitamina K (NOACs), que têm a vantagem de ser pelo menos tão eficazes quanto os anticoagulantes tradicionais, mais práticos na sua utilização, e oferecem um perfil de segurança superior, associado a uma menor taxa de complicações hemorrágicas major, quando comparados com a varfarina.

Com uma população mais envelhecida, assistimos a um número crescente de doentes com necessidade de ser expostos a estes anticoagulantes, que por um lado veem a sua vida facilitada pelas características próprias dos fármacos, mas sendo mais frágeis, muitas vezes complexos dada a sua comorbilidade, tornam algo simples em uma estratégia bastante difícil que merece todo o nosso empenho e atenção.

É sabido que o risco de AVC isquémico na presença de FA é aproximadamente 5 vezes superior aos indivíduos sem FA e associa-se geralmente a maior mortalidade e sequelas de AVC mais extensos. Sendo prevenível com uma correta anticoagulação, é fundamental o seu início rápido, sabendo que estaremos a reduzir em 60% o risco de AVC e embolia sistémica.

Da mesma forma, o TEV é considerado atualmente um problema de saúde pública. Sua alta frequência afeta a 1-2 cada 1000 adultos por ano e corresponde à terceira doença cardiovascular mais frequente depois do AVC e o enfarte agudo de miocárdio (EAM). Reconhecidos os vários fatores de risco (FR) associados a esta entidade, o certo é que o TEV é responsável por 5-10% das mortes em doentes hospitalizados, sendo a causa de morte intra-hospitalar prevenível mais importante.

Assim também, indivíduos não institucionalizados têm maior risco de trombose, como aqueles com períodos prolongados de imobilidade, grávidas, doentes com cancro, portadores de trombofilia congénitas ou adquiridas ou síndrome nefrótico, entre outros.

Quem é responsável por iniciar ou controlar um tratamento anticoagulante deverá conhecer as particularidades de cada um e a necessidade de interrupção destes fármacos – por exemplo para a realização de manobras invasivas ou cirurgias  e para o eventual efeito potenciador ou inibidor da utilização simultânea de outras terapêuticas.

 Igualmente importante será a colaboração das diferentes especialidades, nomeadamente a Imunohemoterapia para a definição da melhor estratégia de acordo a cada caso.

 

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