27 Ago, 2019

Falta de obstetras vai agravar-se. Metade das vagas ficaram por preencher

Apenas 14 vagas foram preenchidas em todo o país. Quadro médico está envelhecido e dificuldades tendem a agravar-se.

Segundo os dados do concurso de primeira época deste ano para médicos recém-especialistas, dos 31 postos de trabalho identificados apenas 14 (45%) foram colocados. No total do concurso, 23% das vagas para todas as especialidades ficaram por preencher.

No caso de obstetrícia e ginecologia, a falta de renovação do quadro médico pode agravar a carência de especialistas nos hospitais públicos a curto/médio prazo. Se, por um lado, é verdade que há 1400 obstetras registados em Portugal, por outro, sabe-se também que apenas 850 exercem no SNS. Metade destes tem mais de 55 anos, idade a partir da qual os médicos deixam de estar obrigados a fazerem urgências.

Com um quadro médico envelhecido, torna-se essencial atrair especialistas. Contudo, sucedem-se os concursos abertos pelo Ministério da Saúde em que as vagas para a especialidade de Ginecologia/Obstetrícia não são preenchidas na totalidade. A agravar a situação estão casos de médicos que, pressionados pela falta de recursos e excesso de trabalho, pedem a reforma compulsiva muito antes do previsto.

O presidente da secção regional Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, denunciou o caso de um médico obstetra que pediu reforma compulsiva aos 59 anos. Para o responsável, o limite já foi atingido e os profissionais estão “muito cansados”.

 

“Maternidades” para lá do limite

 

No início de agosto a Ordem dos Médicos avisou que as maternidades portuguesas estavam a ultrapassar a situação limite, com profissionais a fazerem um “esforço sobre-humano” e a cumprirem num mês mais de 100 horas de serviço de urgência além do habitual.

O presidente da secção regional Sul da Ordem, Alexandre Valentim Lourenço, admitiu na altura, em entrevista à agência Lusa, que as equipas estavam esgotadas, que havia médicos a desistirem do sistema e queixou-se da ausência de medidas da tutela para resolver os problemas identificados pelos profissionais, sobretudo em relação ao período do verão, depois de em final de junho terem sido apresentadas propostas pela Ordem.

À falta de profissionais veio juntar-se um acréscimo de trabalho. No Santa Maria, em Lisboa, por exemplo, as urgências de obstetrícia funcionavam há seis anos com equipas completas e tinham 12 mil episódios num ano. No ano passado, o fluxo de urgências foi de 18 mil episódios, enquanto se assistiu a uma diminuição do número de médicos.

N mesmo dia, a ARS de Lisboa veio reconhecer “constrangimentos pontuais” nas maternidades, mas sublinhou que “o esforço suplementar dos profissionais” permitiu criar condições para preencher as escalas de serviço nos meses de verão.

Na primeira semana de agosto, o Correio da Manhã noticiou a morte de um bebé de uma mulher grávida, com 32 semanas de gestação, que teve de ser transferida de Faro para o Hospital Amadora-Sintra, em Lisboa, por insuficiência de recursos no Algarve, nomeadamente falta de incubadoras, segundo o jornal.

Já na segunda-feira, os médicos denunciaram escalas abaixo dos mínimos nas maternidades de Coimbra e o secretariado regional do Centro do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) exigiu que o Governo resolva com a “máxima urgência” a falta de obstetras naquelas maternidades.

SO/LUSA

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