“Falsas” urgências aumentaram e já representam quase metade do total

Procura pelas urgências diminuiu pela primeira vez desde há alguns anos mas a percentagem de "falsas urgências" aumentou, o que não acontecia desde 2013. SNS teve de enviar mais doentes para serem operados no privado, em 2017, por falta de capacidade de resposta.

Pode ser a inversão de uma tendência. A procura das urgências no Serviço Nacional de Saúde (SNS) diminuiu no ano passado, ainda que de forma ligeira. Contudo, a percentagem de “falsas urgências”, ou seja atendimentos que não justificariam um ida ao hospital, aumentou e já representa 42% do total de urgências, um valor que não era tão elevado desde 2013 – embora nunca tenha caído abaixo dos 40%.

São dados que constam do Relatório Anual sobre o Acesso a Cuidados de Saúde nos estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas. As chamadas “falsas urgências” cresceram de 40,7%, em 2016, para 42% do total, no ano passado. O número de episódios de urgência baixou, apesar de continuar acima dos seis milhões.

 

Cirurgias nos convencionados disparam 

 

O número de consultas e cirurgias realizados aumentou em 2017 mas, no caso das intervenções cirúrgicas, não foi possível tratar muitos doentes – a quantidade de doentes enviados para os hospitais privados e misericórdias aumentou. Os convencionados operaram 24.608 doentes (mais 51,9%) e os protocolados mais 7,3% em relação a 2016. Os convencionados são unidades que recebem pacientes enviados por hospitais públicos quando se está a aproximar do fim do tempo máximo estipulado na lei para a cirurgia.

Esta evolução contraria os objetivos do Ministério da saúde, que tinha anunciado a intenção de fazer crescer internalização de cirurgias e exames médicos no SNS. O Governo criou até um programa de incentivo de cirurgias adicionais no SNS, há cerca de dois anos, para que os hospitais públicos pudessem realizar mais operações e se evitasse a emissão de vales-cirurgia para os privados com quem têm acordos mas a estratégia parece não estar a produzir resultados.

A média de tempo de espera rondou os 3 meses, prazo semelhante ao do ano anterior, mas o número de pessoas à espera de cirurgia aumentou, porque entraram mais doentes na lista. No final do ano passado, havia 231 250 pessoas em lista de espera.

O documento indica que em todas as administrações regionais de saúde (ARS), à excepção do Alentejo, se registou um aumento da produção cirúrgica em relação ao período homólogo. O Algarve foi a região com o maior aumento (9,5%), seguido de Lisboa e Vale do Tejo (5,3%), o Norte, com 4,1%, e o centro 0,3%. Já o Alentejo registou uma diminuição de 6,7%.

Nas patologias que lideram a lista de cirurgias, verificou-se um aumento das operações às cataratas, próteses da anca, hérnias inguino-femurais, varizes e neoplasias malignas (cancros). No caso das doenças oncológicas, em 2017 foram operados mais de 46 mil doentes.

 

Camas de internamento diminuem no setor público

 

Quanto às camas de internamento, o retrato do país volta a mostrar um reforço da oferta nos privados – que já contam com mais de um terço das camas disponíveis – e uma diminuição, embora ligeira, da oferta no setor público em 2017. O decréscimo justifica-se, sobretudo, com a evolução dos números da região Norte, que perdeu 132 camas. O Alentejo tem menos 22 do que em 2016.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo havia mais camas em 2017 e o número vai continuar a crescer. Depois de, nos anos da troika, se ter reduzido a oferta, no início deste ano a tutela determinou que os hospitais desta região terão de a aumentar, porque os estudos provam que são necessárias mais camas, tendo em conta o “agravamento do envelhecimento da população” e o “aumento de complexidade apresentada pelos doentes crónicos e com patologia múltipla”.

Saúde Online

 

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