Grupo de Estudos de Gestão em Saúde (GEST) da APMGF
Estudo GEST revela o Real Impacto das ULS em MGF
O Grupo de Estudos de Gestão em Saúde (GEST) da APMGF volta a destacar a importância de uma análise profunda sobre as Unidades Locais de Saúde (ULS). O estudo REAVALIA-ULS, conduzido um ano após o AVALIA-ULS, revelou resultados contundentes que expõem os desafios enfrentados e as expectativas não concretizadas.
A implementação das ULS prometeu uma integração eficiente entre os cuidados de saúde primários e hospitalares, mas a realidade tem-se mostrado diferente, com desafios estruturais e operacionais significativos.
Uma das questões mais reveladoras do estudo deste ano foi: “Tendo em conta o funcionamento do novo modelo ULS desde a sua implementação, até que ponto concorda com a continuação deste modelo em detrimento do modelo anterior?”. Apenas 16,15% dos respondentes concordam com a continuação do modelo e esse número cai para uns impressionantes 8,09% quando se consideram apenas as ULS Universitárias.
O estudo evidencia ainda uma deterioração significativa nas expectativas iniciais quanto àquela que é apontada como a principal razão para a criação das ULS: a Integração de Cuidados. A promessa inicial de integração frustrou-se, refletindo-se num agravamento da perceção negativa em áreas como a melhoria na referenciação, disponibilização de MCDT e recursos materiais, processos de contratação e a criação do processo clínico único. Inicialmente vistas com otimismo, registaram este ano uma resposta marcadamente mais negativa.
Adicionalmente, as preocupações com o envolvimento organizacional agravaram-se: a avaliação negativa/muito negativa subiu de 60,8% para 73,7%, e a positiva/muito positiva desceu de 14,9% para 9,4%. A perceção negativa relativamente à autonomia das USF passou de 75,3% para 76,5%, enquanto a perceção positiva desceu de 9% para 6%. O estudo confirma que, embora as ameaças à autonomia e a falta de envolvimento dos profissionais fossem já alertadas no ano passado, estas continuam e intensificaram-se.
A generalidade dos Médicos de Família continua a não validar nem se rever no modelo das ULS, refletindo uma desconexão significativa entre a decisão tomada e a realidade vivenciada nos Cuidados de Saúde Primários.
O estudo alerta para a necessidade de uma autonomia administrativa que salvaguarde a gestão eficiente dos CSP e a sua verdadeira integração, sem comprometer a sua essência e especificidades. Os resultados sublinham desafios importantes, mas não devem ser vistos apenas como um ponto de estagnação; pelo contrário, representam uma oportunidade para promover mudanças e melhorias significativas.
Quando uma organização não atende às necessidades dos seus utilizadores e quando não reflete a voz dos seus profissionais, é um sinal de que chegou a hora de reavaliar e mudar o rumo. É hora de repensar, redesenhar a autonomia e devolver aos profissionais a capacidade de agir e inovar. Porque, no final, são as pessoas – e não apenas os processos – que fazem a diferença. Os desafios enfrentados são grandes, mas não devem ser maiores do que a capacidade de agir, evoluir e melhorar.
O estudo Reavalia-ULS será apresentado no segundo dia do Encontro de Outono APMGF, que decorrerá entre 21 e 23 de novembro, em Fátima. Esta sessão do GEST pretende não só discutir estes resultados, mas também refletir sobre os caminhos futuros para garantir que os CSP possam ser ouvidos e considerados na formulação de políticas que influenciam a prestação de cuidados à população residente em Portugal.