Espiritualidade (paz interior, perdão, gratidão e compaixão) e risco cardiovascular
Professor Jubilado de Psiquiatria da FMUL

Espiritualidade (paz interior, perdão, gratidão e compaixão) e risco cardiovascular

Já em 1998, a Organização Mundial de Saúde colocou a espiritualidade na sua definição de saúde: “saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade.” A espiritualidade é, consensualmente, definida como um conjunto de valores morais, mentais e emocionais, que norteiam pensamentos, comportamentos e atitudes nas circunstâncias da vida de relacionamento intra e interpessoais.

Estudos clínicos, que investigaram a relação de espiritualidade/ religiosidade (E/R) com a pressão arterial e marcadores biológicos, sugerem menores valores de pressão arterial (PA), menores níveis de marcadores inflamatórios, redução da atividade simpática e dos níveis de cortisol. O ensaio prospectivo Nurses’ Health Study II, avaliando 44.281 mulheres não hipertensas, concluiu que aquelas que frequentavam serviços religiosos eram menos propensas a desenvolver hipertensão arterial. Existem evidências da associação E/R e resultados positivos, tais como doença coronária, insuficiência cardíaca e hipertensão arterial (HA). O bem-estar espiritual, isoladamente, está relacionado com menores níveis de pressão arterial (PA), glicemia, triglicéridos e colesterol LDL.

Naturalmente, que outros factores, independentes da espiritualidade/ religiosidade, tais como factores psicossociais, intervêm no comportamento da pressão arterial.

Um propósito espiritual seria aprender a lidar, de modo benevolente, com as nossas emoções, pensamentos e comportamentos e as dos outros.  Entre os valores espirituais, nomeiam-se  quatro deles: paz interior, gratidão, perdão e compaixão. Decorrem de estudos que comprovam o seu benefício, independentemente da espiritualidade. A técnica para obter paz interior e somática é inspirada na meditação mindfulness. É uma  atenção plena, apenas na própria respiração. A gratidão pressupõe apreciação do favor recebido e a capacidade de se colocar no lugar do outro.

O perdão é, muitas vezes, difícil. Tente perdoar se possível a 100%… ou o que for possível. Também perdoar-se a si próprio… decerto fez o seu MELHOR… o perdão também o liberta! A compaixão é a atitude benevolente, de escuta, sem julgamento, colocando-se no lugar do outro, sentindo, temporariamente o “pathos” do outro – a empatia.

Embora os resultados não sejam de consenso quanto aos benefícios da E/R sobre a saúde cardiovascular, alguns estudos mostraram redução significativa de eventos cardiovasculares e mortalidade naqueles indivíduos que tiveram práticas relacionadas com a espiritualidade/ religiosidade.

 

 

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