27 Mar, 2023

Endometriose. “É fundamental saber ouvir a mulher que nos procura e saber pesquisar os sintomas”

Filipa Osório é ginecologista-obstetra, especialista em endometriose e membro da direção da Secção de Endoscopia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. No Mês da Endometriose, março, apela à valorização dos sintomas para que haja um diagnóstico precoce.

Qual a prevalência da endometriose em Portugal?

Estima-se que haja cerca de 350 mil mulheres portuguesas com endometriose

 

Ainda existe subdiagnóstico?

Existem alguns fatores que podem contribuir para um subdiagnóstico da doença. A desvalorização ou normalização dos sintomas, pois é frequente dizer-se que ter dor na menstruação é normal, depois alguns sintomas podem ser inespecíficos e confundidos com outros problemas.  Mesmo quando a mulher procura ajuda, o diagnóstico pode não ser atingido quando os sintomas são inespecíficos ou mal pesquisados, ou até mesmo quando os exames complementares de diagnóstico não são concludentes. Estes são fatores que podem levar a um subdiagnóstico e a um atraso no diagnóstico correto.

“… sabe-se que 30 a 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose, pelo que também temos que estar alerta nestas situações”

A que sintomas se deve estar atento para se evitar o atraso no diagnóstico?

É fundamental saber ouvir a mulher que nos procura e saber pesquisar os sintomas. Dor pélvica intensa associada à menstruação, em associação a dor ao evacuar, dor ao urinar ou dor nas relações e por vezes dor associada à ovulação. Por outro lado, sabe-se que 30 a 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose, pelo que também temos que estar alerta nestas situações. Quando uma mulher tem dor  associada ao ciclo menstrual que interfere com o seu dia a dia, impedindo-a de fazer uma vida normal, significa que deve ser investigada e deve procurar ajuda diferenciada para perceber qual a causa da dor e diagnosticar ou excluir endometriose.

 

Considera que quer a Ginecologia como a MGF estão alerta para os primeiros sintomas, aos quais nem sempre a mulher dá a devida importância?

Cada vez mais há profissionais de saúde com conhecimento da doença e alerta para os sintomas. A endometriose é um tema frequentemente discutido em reuniões científicas de ambas as especialidades. Mesmo assim ainda há um grande caminho a percorrer para que se consiga um diagnóstico precoce da doença.

“Estima-se que os custos rondem os 12000 a 35000€ por ano por doente. São custos comparáveis aos de outras doenças, como a diabetes tipo 2 ou a artrite reumatoide”

Quais são os tratamentos mais adequados?

Sendo a endometriose uma doença inflamatória crónica, ela vai acompanhar a mulher nas diferentes fases da sua vida. Nesse sentido, o tratamento da mulher com endometriose deve atuar em várias dimensões de modo a restabelecer o bem-estar físico e psíquico da mulher. É importante não só controlar a doença, mas também perceber as dúvidas e os objetivos da mulher, de modo a estabelecer um plano de ação adaptado ao seu caso. No fundo é definido um tratamento multidisciplinar de acordo com os seus sintomas, gravidade da doença e dos seus objetivos. Hábitos de vida saudáveis como uma dieta adequada, a prática de exercício físico e a redução do stress são fatores importantes. Depois um equilíbrio entre vigilância, terapêutica médica (analgésicos e tratamentos hormonais), terapêutica cirúrgica, apoio da Medicina da Reprodução (preservação da fertilidade ou tratamentos de procriação medicamente assistida) e tratamentos complementares como a acupuntura, a fisioterapia pélvica, a Psicologia, entre outros; são fundamentais para o tratamento holístico da mulher.

 

Quais são os custos diretos e indiretos desta doença? 

Estima-se que os custos rondem os 12000 a 35000€ por ano por doente. São custos comparáveis aos de outras doenças, como a diabetes tipo 2 ou a artrite reumatoide.

 

Aconteceu a  Endomarcha no dia 25 de março. Qual foi o objetivo desta iniciativa?

A Endomarcha é um movimento mundial que tem como objetivo dar voz a estas mulheres. Em Portugal ocorreu em Lisboa e contou com mais de 450 pessoas, juntas para dar a conhecer a doença, para lutar por um reconhecimento e melhores condições, para chamar a atenção do governo, para lutar por melhores cuidados de saúde. A força da união, bem como o carinho, a amizade e o sentido de interajuda foram sentimentos que prevaleceram ao longo desta marcha.

 

SO

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