Doente com AVC: Diagnósticos e tratamentos “têm sido sempre assegurados”

Em entrevista ao SaúdeOnline, o médico neurologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e membro da Sociedade Portuguesa do AVC refere que "foi possível mitigar o impacto (da pandemia) no diagnóstico" e tratamento do doente com AVC, através do sistema da Via Verde do AVC

A pandemia do Covid-19 trouxe vários desafios aos hospitais e aos profissionais de saúde. No caso do doente com AVC, qual foi o impacto que a pandemia teve no seu diagnóstico? E no tratamento?

O cenário com que nos vimos confrontados obrigou à reformulação da abordagem hospitalar por forma a assegurar a resposta do doente com suspeita de AVC agudo, por um lado, e protegendo os doentes não infetados e os profissionais de saúde, por outro. Deste modo, foi possível mitigar o impacto no diagnóstico (cujas falhas possivelmente se observaram maioritariamente por via da não identificação precoce de sinais e sintomas sugestivos de AVC e da hipervalorização inicial das queixas respiratórias) e o tratamento.

Foram adotados novos procedimentos de diagnóstico e tratamento destes doentes? Quais foram?

Sim. Estabeleceram-se novos algoritmos de atuação tendo em conta dois cenários principais: o da Via Verde de AVC tradicional adaptada ao contexto de pandemia e o de instalação de quadro suspeito de AVC em doente com diagnóstico já estabelecido de infeção por SARS-CoV-2. Os procedimentos diagnósticos e intervenções terapêuticas têm sido sempre assegurados. Contudo, no primeiro caso o doente é internado diretamente no serviço de Neurologia/UAVC com isolamento de gotículas e de contacto até que seja excluído o diagnóstico de COVID-19 e, no segundo, é admitido em enfermaria dedicada a doentes com COVID-19, mantendo o apoio da especialidade de neurologia para decisão terapêutica.

Como é que é feito o acompanhamento dos doentes com AVC na sua reabilitação, tendo agora em conta a pandemia da Covid-19?

Nos doentes sem infeção por SARS- CoV-2 tem sido possível assegurar, quer a abordagem inicial por enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação, quer, de forma progressiva, o tratamento posterior em unidade diferenciada.

De forma a dar o tratamento mais rápido possível a estes doentes, existem muitos hospitais com o sistema Via Verde do AVC. Quais são os procedimentos da Via Verde do AVC?

A Via Verde do AVC, nas suas modalidades pré e intra-hospitalar, foi implementada no território nacional em 2006 com assinalável êxito, embora inicialmente apenas funcionasse de forma eficaz em áreas geográficas limitadas e em hospitais definidos. Hoje, felizmente, a realidade é muito diferente, fruto de uma conjugação de vontades de diferentes instituições e organizações. A evidência de benefício expressivo do tratamento endovascular em doente com AVC isquémico por oclusão de grande vaso, ocorrida em 2015, exigiu uma reformulação do modelo, enfatizando a necessidade de uma articulação competente entre hospitais (Via Verde inter-hospitalar). Neste aspeto, a realidade nacional tem sido algo assimétrica.

A Via Verde do AVC já existia antes do cenário pandémico e, de uma forma geral, a sua implementação não foi consequência deste. O que foi particularmente exigente foi a adoção de um conjunto de medidas específicas e algoritmos próprios para responder a esta realidade.

AR/SO

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