Covid-19: Centros de saúde de LVT só estão a dar resposta a doença aguda

Segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), em Lisboa e Vale do Tejo foram adiadas consultas e tratamentos de outras doenças, para tratar apenas doentes com Covid-19

“Em Lisboa e Vale do Tejo voltámos atrás na realização de consultas e tratamento”, disse à agência Lusa o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, adiantando que neste momento os médicos de família estão “exclusivamente a seguir apenas a doença aguda”.

Na próxima semana, exemplificou, “estarei quatro dias” na “consulta aberta” para atender casos de doença aguda e um dia a atender as grávidas.

“Neste momento, o que acontece é que, em vez de estarmos a seguir as grávidas todos os meses, estamos a fazê-lo quatro vezes durante a gravidez e as crianças só são seguidas nas alturas da vacinação”, disse Roque da Cunha.

 

 Diabéticos e os hipertensos estão a ser seguidos por teleconsulta

 

“O que é simpático da primeira vez, mas no geral não é sistema”, referiu ainda o secretário-geral do SIM.

“Se se continuar dessa forma a controlar os diabéticos e os hipertensos vamos ter uma calamidade em termos de mortalidade e morbilidade daqui a três, quatro, cinco ou seis anos”, advertiu.

Neste momento, cada um dos médicos de família está a ver os utentes uns dos outros. “O conceito de medicina familiar naturalmente que irá no futuro ter repercussões”, porque os doentes crónicos “não estão a ser seguidos devidamente”.

Ao mesmo tempo que em termos hospitalares, disse Roque da Cunha, está “a assistir -se a um aumento do recurso das pessoas à urgência.”

 

Médicos estão “exaustos”

 

“Já antes da pandemia havia falta de médicos e uma grande lista de espera, a verdade é que com a pandemia e com a desorganização do trabalho durante a pandemia não houve hipótese de os médicos descansarem, de fazerem descanso obrigatório, gozarem fim-de-semana e mesmo terem férias”.

Portanto, vincou, “a situação é grave e preocupante”, mas resolve-se “se houver liderança e se houver uma orientação clara em relação a estas matérias”.

“Fruto da displicência por parte do Governo, da falta de trabalho, de orientação e de capacidade de liderança da autoridade de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, infelizmente vieram-se a confirmar as piores das nossas expectativas”, disse o médico, que está a acompanhar mais de 20 cidadãos infetados com covid-19 da sua lista de utentes na Unidade de Saúde Familiar (USF) da Travessa da Saúde, em Camarate, no concelho de Loures.

Na quinta-feira, o Governo aprovou o dever cívico de recolhimento domiciliário em 19 freguesias de cinco dos 18 concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML), designadamente de Lisboa, Sintra, Amadora, Odivelas e Loures, a partir de 01 de julho devido ao elevado número de casos de covid-19.

“Não sendo profeta da desgraça repetidamente afirmámos que não estavam a ser seguidos os contactos das pessoas que estavam infetadas, os seus percursos epidemiológicos e de alguma maneira o Governo reconheceu isso com a criação de uma comissão para Lisboa e Vale do Tejo”, afirmou.

Roque da Cunha salientou, por exemplo, que neste momento a Direção-Geral de Saúde não tem uma orientação clara em relação ao que fazer aos contactos diretos das pessoas que são infetadas.

“Marido, mulher, filhos, o que se faz? Testa-se? Não se testa? Só se testa quando é positivo? Colegas de trabalho infetados, o que é que se faz? Mães de bebés em creches infetadas? O que é que se faz”, questionou, defendeu que é fundamental que haja uma orientação neste sentido.

SO/LUSA

 

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