Clareza e coerência
Hospital CUF Infante Santo Entre muitas reformas pretendidas e reivindicadas […]

Clareza e coerência

Hospital CUF Infante Santo

Entre muitas reformas pretendidas e reivindicadas para a Saúde, o País deveria priorizar e começar pela “reforma da integração de cuidados”.

E fazê-lo de modo sério e racional, aproveitando os recursos e os investimentos, envolvendo os profissionais, os doentes e as associações cívicas e colocando-a de imediato na agenda política, a exemplo das preocupações da própria Organização Mundial de Saúde (OMS).

O que chamo de consciência social tem de saber que, por maiores cuidados de saúde que tenhamos, isso apenas condiciona em 10% a nossa saúde, mas por outro lado, os comportamentos ditos de risco determinam 40%!

O que pode parecer um trocadilho ou um “numeradilho” é, de facto, crucial e abre as portas a uma discussão trágica que, infelizmente não sei quando vai ocorrer, sobre o que a sociedade vai querer fazer face à exiguidade de recursos financeiros para tudo tratar. Vamos ter que escolher e decidir, nesse momento, quem tratar em função do preço ou custo do melhor tratamento possível: 10 doentes a 100 euros cada, ou 2 apenas a 500 euros cada?

A integração de cuidados de que falo vai num sentido muito amplo e indispensável.

A começar entre os cuidados de saúde e os sociais, a continuar entre os cuidados primários e os hospitalares e a não perder depois com os continuados.

O elo base é o da inscrição dos utentes no médico de família, isto é, por definição é o médico de família que tem de ser o gestor único de todo o processo assistencial aos seus utentes, quer transversal, quer longitudinalmente no tempo e nos serviços.

As situações crónicas hoje mais prevalentes e que constituem uma mudança de paradigma já bem sublinhado e alertado pela OMS são um bom exemplo dessa necessidade estruturante para o SNS. Não faz clinicamente qualquer sentido que, um doente crónico numa descompensação, falemos duma diabetes ou duma insuficiência cardíaca, seja tratado “entrecortadamente” em urgências ou serviços desconexos, de modo meramente reactivo, isolado ou desinserido de qualquer lógica ou continuidade assistencial clínica.

A noção ou o conceito da presença ou participação de médicos hospitalares em consultadorias efectivas nos CSP parece um desenho inútil e impede ainda não só vantagens para as populações, como oportunidades de formação e desenvolvimento interpares e poupança de recursos ao erário público.

Para além disso, no plano organizativo, facilitaria o modelo de relacionamento articulado entre CSP e sector secundário hospitalar e permitiria iniciar a revolução estratégica que se impõe e justifica no sentido de reduzir, actuando a montante, a procura pelos doentes dos serviços de urgência hospitalares.

Portugal é na Europa um parceiro conhecido por muitas características nem sempre abonatórias e neste capítulo, o da procura das urgências, também como mau exemplo – mais de 8 vezes que os alemães, mais 6 vezes que os holandeses e por aí fora.

É cá que mais se recorre a estruturas de urgência hospitalar, nós que nos gabamos de ter um SNS espectacular!  

Por fim, uma outra nota para a discussão sugerida.

Os cuidados continuados parecem ser uma boa resposta no sistema, mas faltam estudos que validem os resultados obtidos ou que, no limite, confirmem que o investimento se traduz em ganhos efetivos de saúde.

Ainda que seja preciso explicar aos senhores autarcas que essas unidades não são para as pessoas da terra, mas para uma disponibilidade regional ou até nacional!

E parece-me fundamental que esta investigação seja produzida pelas implicações que pode ter no SNS e numa outra discussão, recorrente e crítica, sobre o encerramento das camas hospitalares. A realidade de então, que prenunciava excesso de oferta de camas de agudos em relação aos indicadores europeus, parece desajustada exactamente pelo peso significativo das patologias associadas em doentes mais envelhecidos e com necessidades médicas mais complexas. Mas ao contrário da ideia vendida, os cuidados continuados e a rede criada, é uma rede nacional, gerida nacionalmente e não destinada a acolher indivíduos idosos locais, mesmo que com poli-patologia, mas sem critérios clínicos definidos para necessidades específicas…

É por isso que à clareza se deve sempre associar coerência.

Mais do que publicidades balofas…

 

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