24 Fev, 2020

CHUC: Admissão de novos doentes para transplantes hepáticos suspensa desde setembro

Bactéria multirresistente na origem da suspensão. Fernando Regateiro diz que a unidade está a ser reestruturada para melhorar condições de resposta.

Segundo avança hoje o jornal PÚBLICO, há cinco meses que não entram novos doentes em lista de espera para a realização de transplantes hepáticos no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Na origem desta medida está o aparecimento de uma bactéria multirresistente no internamento em setembro – que ficou resolvida ainda em 2019 – e a falta de recursos humanos que têm limitado os transplantes hepáticos em adultos aos casos urgentes de doentes já internados.

“Desde setembro de 2019” que não entram novos doentes em lista de espera para a realização de transplantes hepáticos no CHUC, diz o conselho diretivo do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) ao PÚBLICO, em resposta ao jornal por escrito. “Todos os doentes foram informados da situação na consulta e aconselhados a inscrever- -se noutro centro pelo seu médico de referência”, mas “a maioria preferiu não sair”. A unidade, explica, “apenas realiza transplantes aos doentes já internados na instituição, nos casos de urgência”. Questionado sobre quando se prevê o reinício da atividade normal, o IPST diz aguardar “o plano de restruturação e de implementação das medidas aconselhadas no relatório da auditoria”.

A 18 de Setembro de 2019, a direção clínica do CHUC foi informada da existência de uma bactéria multirresistente no internamento, que levou à suspensão da admissão de novos doentes. Na altura, o então diretor do programa estimava que o problema estivesse resolvido em semana e meia e a unidade voltasse a funcionar normalmente. O que não aconteceu.

Também em setembro passado, a reforma, por idade, de um gastroenterologista que fazia parte da equipa multidisciplinar estava a gerar mais espera pelas primeiras consultas. O presidente do conselho de administração, Fernando Regateiro, recusou que a falta de recursos humanos estivesse a limitar a realização de transplantes. Em 2019, o CHUC fez 45 transplantes de fígado, mais um que em 2018, e segundo o IPST, que em dezembro fez uma auditoria à Unidade de Transplantes Hepáticos, o transplante hepático pediátrico “mantém a sua atividade normal”.

Fernando Regateiro, explicou ao diário que a Unidade de Transplantes Hepáticos (UTH) está a ser reestruturada, com o objetivo de se criarem “as melhores condições de resposta”. O diretor do serviço mudou no último trimestre e o coordenador da unidade no final de janeiro.

O presidente do CHUC, garantiu ainda que os doentes serão “reorientados para outras unidades se se verificar que é preciso”, sendo que, até ao momento, não foram registados reencaminhamentos.

A Ordem dos Médicos tem recebidos nos últimos meses informações de problemas nos transplantes hepáticos de adultos na unidade de Coimbra. O bastonário espera “dentro dos próximos 15 dias” estar a fazer uma visita ao serviço do CHUC. Miguel Guimarães declarou ao jornal que “alguns médicos entregaram na Ordem a declaração de responsabilidade”, por considerarem que não estavam reunidas todas as condições para trabalhar. Recorda que no ano passado reuniu com alguns médicos com o intuito de “resolver o problema dos transplantes”. Mas estes arrastaram-se.

O presidente da Secção Regional Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, lamenta nunca ter “sentido a preocupação” do conselho de administração do CHUC e do Ministério da Saúde aos “vários ofícios” e alertas que fez nos últimos dois anos. “A partir de setembro de 2018, percebeu-se que existiam problemas, porque os doentes não estavam a ser triados para lista de espera por falta de recursos humanos”, diz, considerando que “a existência da unidade esteve em risco por inação da administração e do ministério”.

O presidente do conselho de administração do CHUC, Fernando Regateiro, diz que estão a fazer uma “reestruturação profunda” da unidade e que “é importante agora dar à nova estrutura umas semanas para que ponham no terreno as respostas”.

O responsável não apontou datas para o reinício da normal atividade da unidade, referindo que “é preciso perceber o conceito de tempo nestes procedimentos”. “O breve é quando as condições estiverem criadas e isso demora. Mas estamos a trabalhar com equipas muito experientes e de elevada diferenciação”, destaca Fernando Regateiro.

RV/PÚBLICO

 

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