Cancro da Cabeça e Pescoço mata três pessoas por dia

Ontem assinalou-se o arranque da 7ª edição da Semana Europeia de Luta Contra o Cancro da Cabeça e Pescoço. Os números desta patologia impressionam: surgem cerca de 3000 novos casos todos os anos.

Ontem, dia 16 de setembro, arrancou a 7ª Edição da Semana Europeia de Luta Contra o Cancro da Cabeça e Pescoço. Para assinalar o primeiro dia de um variado conjunto de iniciativas irá decorrer uma sessão de rastreios orais no Cais do Sodré, em Lisboa.

A iniciativa, organizado pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP) e pela Associação dos Amigos dos Doentes com Cancro Oral (ASADOCORAL), contou com a presença da Ministra da Saúde, Marta Temido, a presidente do GECCP e oncologista do Centro Hospitalar do Porto, Dra. Ana Castro e o Dr. Filipe Freitas, membro da Mesa da Assembleia Geral da Ordem dos Médicos Dentistas e Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Medicina Oral.

“O objetivo [da campanha de sensibilização] é sobretudo dar a conhecer a doença. As pessoas têm de conhecer os sinais, os sintomas aos quais devem estar alerta”, começou por explicar a oncologista Ana Castro. “Quanto mais pessoas tiverem [est]a informação, mais facilmente conseguem pedir ajuda”.

O Cancro da Cabeça e Pescoço “é, infelizmente, uma doença que ainda mata muito em Portugal – morrem 3 portugueses por dia”, motivo pelo qual deseja que a população de risco seja identificada e “seja diagnosticada mais cedo”. Quanto mais cedo for o seu diagnóstico, maiores são as probabilidades de cura, explicou.

Numa fase inicial, cerca de 90% dos doentes conseguem entrar em remissão. No entanto, se for diagnosticado tardiamente, a probabilidade desce drasticamente para os 20%.

“É muito importante [as pessoas] saberem os fatores de risco. O tabaco, o consumo de álcool, uma má higiene oral, as próteses dentárias mal adaptadas e a infeção por HPV são alguns deles”, disse. Na sua opinião, a entrada dos médicos dentistas no SNS é um acontecimento bastante positivo, porque permite à população “ter [mais facilmente] acesso a cuidados de saúde oral”. Considera este como o primeiro passo para, numa primeira fase, “atuar nas causas [destas patologias] e depois diagnosticar mais precocemente, junto dos colegas de Medicina Geral e Familiar (MGF)”.

De volta à sintomatologia, a médica Ana Castro volta a frisar que “aftas, feridas, lesões brancas ou vermelhas na boca que não passam com tratamento ao fim de três semanas devem ser observadas por um médico”, o que “não quer dizer que qualquer pessoa que tenha estes sintomas tenha (este) cancro”, esclareceu.

A ministra da saúde, Marta Temido, explicou que “este tipo de campanhas é absolutamente fundamental”, porque o que “o que se está a sublinhar é a importância do autocuidado, do autoexame, do rastreio e da prevenção, na tentativa de sensibilizar a população para a necessidade de estarmos atentos às manifestações e evoluções”, ou seja, “às alterações do nosso organismo, mais concretamente daquilo que se possa passar ao nível da cavidade oral e a queixa aos profissionais de saúde”.

Se esta patologia não for detetada precocemente e devidamente acompanhada e tratada, como sublinhou Ana Castro, esta enfermidade pode “afetar de forma irreversível a vida do doente”. Foi por esse motivo que foi realizado um “esforço significativo ao nível da saúde oral no Serviço Nacional de Saúde com a colocação de médicos dentistas nos Centros de Saúde, para além daquilo que já era a intervenção tradicional – os cheques-dentista”, declarou a ministra.

Ainda relativamente à atual cobertura de dentistas nos cuidados de saúde primários, a ministra da Saúde afirmou, perante os jornalistas presentes, que metade dos Centros de Saúde já têm a cobertura de saúde oral disponível ao utente. Contudo, esclarece que existem “áreas como Lisboa em que o progresso foi muito rápido”, mas “outras em que tem de se acelerar a velocidade [de implementação desta medida]”.

Já no final da sua intervenção, Marta Temido apelou à população que está de passagem pelo local onde está a ser efetuado o rastreio (entre a estação de metro e a estação fluvial do Cais do Sodré) para que dispensem um pouco do seu tempo e façam o rastreio, porque, como voltou a frisar: “A saúde tem muitas vezes manifestações que podem ser relativamente silenciosas, mas às quais todos temos de estar atentos”.

Enquanto dentista, Filipe Freitas, fez questão de destacar o papel do dentista nestas situações:

“Do nosso contacto regular com os doentes, estamos numa posição privilegiada para, idealmente a cada seis meses, poder identificar lesões numa fase inicial. E, como todos sabemos, o diagnóstico precoce é o fator mais importante para melhorar o prognóstico da doença.”

O dentista e Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Medicina Oral aproveitou a ocasião para relembrar um projeto pioneiro em Portugal, o Projeto de Intervenção Precoce do Cancro Oral (PIPCO).

O projeto “foi desenvolvido em 2014 pela Direção-Geral de Saúde em parceria com a Ordem dos Médicos Dentistas e permite facilitar o acesso dos doentes a cuidados de saúde, aproveitando a capacidade instalada dos serviços públicos e privados”.

Continuou, sintetizando, de uma forma bastante elucidativa, no que consiste:

“Sempre que o médico de família identifica uma lesão suspeita, emite um cheque-diagnóstico que permite a referenciação do paciente para um médico dentista aderente ao projeto, que permite, por sua vez, agendar uma consulta sem custos. Caso se verifique a necessidade de confirmar a natureza da lesão, o médico dentista emite um cheque-biópsia, que permite realizar a biópsia (ato cirúrgico para obter confirmação do diagnóstico), também sem custos [para o doente]. Se, por ventura, se confirmar o diagnóstico de cancro o IPO é notificado, contacta a pessoa e dá o devido acompanhamento”.

Ou seja, esta acaba por ser mais uma ferramenta que permite um mais fácil acesso aos cuidados de saúde oral e, por sua vez, efetuar um diagnóstico precoce e o rápido tratamento do cancro oral, um dos maiores cancros dentro da categoria de Cancro da Cabeça e Pescoço.

Ainda no âmbito da 7ª Semana Europeia de Luta Contra o Cancro da Cabeça e Pescoço existem outras iniciativas a decorrer. A presidente do GECCP disse que hoje, dia 17 de setembro, irá haver o lançamento do livro “Sonhos que Ajudam” escrito por Sara Neves, uma doente de Cancro da Cavidade Oral juntamente com Simone Fernandes, nutricionista, no qual estão presentes as receitas que a escritora que a ajudaram a combater a falta de fome e a fragilidade do sistema imunitário causados pelos tratamentos inerentes a uma doença oncológica, nomeadamente a quimioterapia. Para além disso, irá haver “sessões mais vocacionadas para as crianças”, na qual se irá abordar a saúde oral, mais concretamente a forma correta de ser realizada a higienização da boca. Para além destas, irão decorrer sessões específicas para os especialistas em MGF e uma outra ação de rastreio no Porto, perto do final do mês.

Durante o resto do ano, irá decorrer uma campanha que, contando com o apoio de várias entidades, “visa receber os doentes com cancro depois de estarem curados nos seus locais de trabalho, ou seja, a sua reintegração no local de trabalho”.

EQ/SO

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