27 Abr, 2018

Baxter aposta em diálise domiciliária

A multinacional farmacêutica já disponibiliza, em seis hospitais do Serviço Nacional de Saúde um sistema de diálise peritoneal “assistido” por telemedina, que permite um melhor controlo dos doentes. Com um volume global de vendas que no terceiro trimestre de 2017 atingiu os 2.7 mil milhões de dólares, a Baxter lidera, a nível mundial, no tratamento da insuficiência renal

Com um volume global de vendas que no terceiro trimestre de 2017 atingiu os 2.7 mil milhões de dólares, a Baxter lidera, a nível mundial, no tratamento da insuficiência renal, tendo sido pioneira, em 1956, na comercialização do primeiro rim artificial e em 1960 da primeira solução para Diálise Peritoneal.

Em Portugal há mais de duas décadas, onde conta com uma equipa de cerca de 50 colaboradores internos e outros tantos externos afetos em exclusivo às suas operações logísticas e de apoio domiciliário, a empresa aposta forte na Telemedicina associada à inovação terapêutica, designadamente na área da diálise peritoneal, em que foi pioneira e é líder de mercado. Entre os produtos oferecidos, destaca-se uma plataforma de Telemedicina em Diálise Peritoneal que permite ligar remotamente os doentes que efetuam Diálise Peritoneal Automatizada (DPA) em casa, aos profissionais de saúde que os acompanham nos hospitais. A nova ferramenta vem revolucionar o paradigma de prestação de cuidados introduzindo uma nova dinâmica e permitindo um maior conforto e autonomia do doente, assim como a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, já que permite a poupança de custos e de tempo, tanto para os profissionais de saúde como para o doente, o que se traduz também numa poupança de recursos humanos, transportes e deslocações.

Em entrevista ao Jornal Económico, Filipe Granjo Paias, diretor-geral da filial portuguesa da multinacional de Tecnologia Médica falou deste e de muitos outros projetos em curso, que vêm satisfazer necessidades ainda não satisfeitas ao nível de inovação terapêutica e tecnológica na área da saúde.

Normalmente, quando falamos de recursos humanos na área da indústria farmacêutica, reportamo-nos a consultores de marketing, market acess, compliance e não em profissionais de saúde que prestam cuidados a doentes aos quais foi prescrita inovação terapêutica. A Baxter foge à regra…

É verdade. Temos equipas de cuidados domiciliários compostas por enfermeiros, que prestam cuidados domiciliários a doentes crónicos na área da diálise. Estes profissionais acompanham os doentes que utilizam, a plataforma de Telemedicina em Diálise Peritoneal que permite ligar remotamente os doentes que efetuam Diálise Peritoneal Automatizada (DPA) em casa, aos profissionais de saúde que os acompanham nos hospitais.

Quais as vantagens do novo dispositivo?

A monitorização dos dados à distância permite que os Profissionais de Saúdeacedam remota e diariamente à informação de tratamento dos seus doentes, efetuando os ajustes necessários à terapêutica e possibilitando um cuidado personalizado.

Atualmente onde é que se encontra implementado?

O Sistema está implementado em sete hospitais do país. Este projeto, integrado na aposta da Baxter na Telemedicina, é também um compromisso que vai ao encontro da própria estratégia do Ministério da Saúde, permitindo a poupança de custos e de tempo, tanto para os profissionais de saúde como para o doente, o que se traduz também numa poupança de recursos humanos, transportes e deslocações.

De que universo de doentes estamos a falar?

Em Portugal existem cerca de 12 mil doentes a fazer diálise, com uma incidência de 2500 novos doentes/ano. Deste universo, 6% fazem diálise domiciliária.

E os doentes, aderem bem ao tratamento domiciliário?

Diria que há como que uma biodisponibilidade do doente e da sua família para optarem pela diálise peritoneal. É certo que as opiniões divergem quanto ao local em que os doentes preferem receber os cuidados, com algumas vozes a afirmar que é em casa e outras a garantir que só acedem a cuidados se forem prestados fora do seu domicílio. A utilização da Telemedicina em Diálise Peritoneal, está dependente da elegibilidade do doente para fazer diálise peritoneal. E nem todos os doentes são elegíveis, quer do ponto de vista clínico quer de um ponto de vista social e comportamental.

Quantos doentes se encontram abrangidos pelo Sistema, realizando diálise peritoneal com controlo remoto?

A fazer diálise peritoneal com telemedicina, são cerca de 130 doentes, de um total de cerca de 700 doentes. Isto num universo estimado de cerca de 12 mil doentes que atualmente fazem diálise em Portugal.

Quanto é a vossa expetativa de crescimento?

Do ponto de vista prático, acreditamos que quantos mais doentes estiverem em sistema de telemedicina, melhor são tratados e maior confiança os doentes e os profissionais de saúde terão na gestão da doença.

Esperamos que no final de 2018 todos os doentes que sejam elegíveis para diálise peritoneal autonomizada, com sistema de telemedicina, a estejam a fazer.

Existem estimativas de quantos dos 12 mil doentes a fazer diálise são elegíveis?

Há vários estudos que apontam que, em teoria, 60% dos doentes começam a fazer diálise, poderiam fazer diálise peritoneal. É claro que esta estimativa depende de fatores sociais e do modelo de referenciação dos hospitais. Aqui “ao lado”, em Espanha, estudos realizados revelaram que cerca de 50% dos doentes gostariam de poder optar por uma técnica como a da diálise peritoneal. De uma coisa estou certo: o recurso à diálise peritoneal irá aumentar no SNS.

Os custos são comportáveis?

De uma forma geral, olhamos para a relação entre as companhias farmacêuticas e as instituições do SNS como uma troca pura de produtos. Compartilhamos a atividade em comprar e vender. E isso na realidade não é o que acontece. Ao longo dos anos, as empresas foram desenvolvendo uma oferta de serviços que se foi tornando cada vez mais substancial. No nosso caso, fornecemos os equipamentos, que são colocados em casa dos doentes ou nos hospitais, ao abrigo de um acordo de aquisição de um produto (tratamento) e nos casos de doentes que fazem diálise peritoneal em casa, entregamos o tratamento ao domicílio, bem como garantimos apoio domiciliário, com recurso a uma equipa de 18 profissionais e que prestam cuidados aos cerca de 510 doentes que utilizam o sistema de diálise da Baxter.

São suficientes?

São, porque estas equipas trabalham em estreita articulação com os hospitais. Quando o doente inicia o tratamento, o treino inicial é feito no hospital, sendo depois acompanhado em casa pelo Apoio Domiciliário. Quando o doente já está bem adaptado, a necessidade de acompanhamento diminui e com ela a frequência das visitas domiciliárias.

Enquanto fornecedores do SNS, sofrem, como os demais, o problema dos pagamentos em atraso? É um problema?

Certamente. Qualquer prestador, fornecedor, que não recebe os seus pagamentos em tempo útil, passa por constrangimentos. Do ponto de vista prático, penso que será lugar-comum afirmar que o SNS sofre de subfinanciamento crónico. É uma realidade insofismável.

O SNS depende muito da boa vontade dos seus fornecedores, que poderiam dizer, pura e simplesmente que a mais de 90 dias, não vendem.

É verdade que chegámos a um ponto em que o SNS depende muito das companhias que o fornecem. E a verdade é que pesem os atrasos, todas as companhias continuam a fornecer.

Como se explica a permissividade?

Acredito que todas as empresas, incluindo a Baxter, têm como ponto de referência o doente. É assim que, ao longo dos anos, temos vindo a financiar o SNS, permitindo atrasos nos pagamentos muitas vezes demasiado prolongados. Não é um fenómeno de hoje: é assim há muitos anos.

MMM

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