8 Nov, 2023

“A introdução precoce destes alimentos [oito alergénios] diminui o risco de alergia alimentar na infância”

De acordo com um estudo do Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS) da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), os produtos alimentares para bebés, à venda em Portugal, não estão de acordo com as orientações internacionais que defendem a introdução precoce, a partir dos 6 meses, dos oito principais alergénios alimentares: ovo, peixe, marisco, soja, frutos secos, amendoins, leite e trigo. Inês Pádua, nutricionista, coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição do CESPU, fala sobre as mais-valias de da introdução precoce destes alergénios na alimentação da criança.

Quais as mais-valias da introdução precoce, a partir dos 6 meses, dos oito principais alergénios alimentares, como ovo, peixe, marisco, soja, frutos secos, amendoins, leite e trigo?
Percebeu-se que a introdução precoce destes alimentos é protetora relativamente ao risco de desenvolver alergia alimentar na infância. Sabemos, contudo, que muitos destes alimentos são introduzidos (por recomendação e/ou decisão dos cuidadores) tardiamente na alimentação das crianças (2-3 anos).

 

Que consequências já se veem por não se introduzir esses alimentos mais cedo?
O processo causal foi ao contrário. Com o aumento da prevalência da alergia alimentar nos últimos anos, tem sido necessário desenvolver esforços que permitam desenhar estratégias de prevenção e evitar que os números aumentem mais ou que esta curva epidemiológica acelere.

A investigação científica tem assim mostrado que a introdução precoce de alergénios, e entenda-se precoce a partir dos 6 meses de idade, assim como uma maior diversidade de alimentos presentes na alimentação das crianças até aos 12 meses, seria protetor.

 

Por que razão Portugal não segue essa indicação?
Sabemos que a investigação nesta área é relativamente recente e naturalmente que as recomendações demoram o seu tempo a ser formuladas e revistas. Efetivamente, já existiram alterações das recomendações relativas, pressupostos que se seguiram durante anos, mas ainda existirá espaço para mais atualização.

 

Os produtos vendidos não contêm esses alergénicos. Mas podem ter outros que são também prejudiciais?
Importa aqui esclarecer que, se a criança for alérgica a um destes oito alergénios, naturalmente que não o deve consumir, e o mesmo se aplica a outro alergénio que não esteja incluído nesta lista de oito. Neste estudo, analisamos estes oito alergénios por serem os responsáveis por cerca de 90% das reações (são considerados os “big 8” na literatura).

Neste nosso estudo, no âmbito do curso de Nutrição do Instituto Universitário de Ciências da Saúde, verificámos a composição de 411 produtos à venda em 10 cadeias de hipermercados e supermercados. As papas, purés, boiões com refeições, snacks e substitutos lácteos disponíveis para crianças até aos 15 meses não incluem as seis destes oito principais alergénios (apenas o leite e o trigo estão incluídos em alguns), o que significa que se inibe através do consumo destes produtos o contacto precoce das crianças.

Sabemos que, idealmente, as crianças devem consumir alimentos preparados em casa e que, inclusivamente, este tipo de preparações (caseiras) de cereais, fruta, hortícolas terão também um papel protetor. Contudo, haverá sempre necessidade, e espaço, para produtos comerciais para bebé e estes devem permitir que os cuidadores possam fazer uma introdução alimentar concordante com as recomendações e saudável. Os nossos resultados mostram que isto não é possível no grau desejado.

 

Ao fim de tantos anos a evitar esses alergénios, considera que seria necessário apostar em campanhas de sensibilização para que os pais também deixem de ter medo de introduzir, desde cedo, esses alimentos?
Importa sempre referir que, durante muito tempo, existia a recomendação para evitar estes alergénios porque não tínhamos disponível a evidência que temos hoje. Assim, primeiramente, será importante que os profissionais de saúde possam formular recomendações atualizadas para a introdução alimentar, porque são, e devem ser, a fonte primordial de informação dos cuidadores das crianças.

 

SM/MJG

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