29 Jan, 2021

90% dos médicos do privado e 70% dos do SNS ainda não foram vacinados

Bastonário fala em "revolta e indignação" quando se estabelecem outras prioridades antes dos médicos, como a classe política.

Cerca de 90% dos médicos e restantes profissionais de saúde dos hospitais privados ainda não foram vacinados contra a covid-19, nem sabem quando vão receber a vacina, alerta o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).

“O total de profissionais de saúde vacinados nos hospitais privados ronda os 1.700 ao dia de hoje. Estamos a falar de cerca de 90% do pessoal de saúde que ainda não foi vacinado e, pior do que isso, não sabe quando é que vai ser”, afirma Óscar Gaspar.

O responsável da APHP assegura que esta situação é motivo de “grande preocupação neste momento”. “Há alguma perturbação e até indignação de muitos profissionais porque sabem que são considerados como de primeira linha, na primeira fase de prioridade de vacinação, e a verdade é que não só não receberam [a vacina], como não lhes foi dito ainda quando é que a podiam tomar”, considerou Óscar Gaspar.

Um médico “não é diferente por ter um vínculo com o SNS ou com qualquer outra entidade”, defendeu o presidente da APHP, para quem em causa está a segurança dos profissionais de saúde e dos próprios utentes dos hospitais privados.

Perante este cenário, a APHP avançou com uma queixa junto da Entidade Reguladora da Saúde. Também a Ordem dos Médicos (OM) anunciou que vai recorrer a “todos os mecanismos possíveis” para fazer cumprir os critérios de prioridade do plano de vacinação.

 

“3 mil médicos infetados representaram centenas de milhares de horas de trabalho” perdidas, diz o SIM

 

Os números avançados por Óscar Gaspar são corroborados pelo bastonário da OM, que confirma que menos de 10% dos médicos que trabalham fora do SNS receberam a primeira dose da vacina, enquanto no SNS cerca de 30% dos médicos foram vacinados, com a primeira dose ou as duas tomas.

“Estamos bastante preocupados com o que está a acontecer”, sublinha Miguel Guimarães, que criticou a decisão de vacinar a “classe política de uma forma geral”, apesar de considerar que o Presidente da República e o primeiro-ministro “já deviam ter sido vacinados no primeiro dia”.

“Este anúncio de haver várias prioridades quando a maior parte dos médicos e dos outros profissionais de saúde ainda estão por vacinar é uma situação complexa que gera nos médicos um sentimento de revolta e de indignação”, alertou.

Para presidente do SIM, Jorge Roque da Cunha, o processo de vacinação em Portugal tem tido uma gestão “meramente política”, alegando que “sem profissionais de saúde saudáveis, não há pessoas para combater a pandemia” da covid-19.

Já tivemos 3.000 médicos infetados que representaram centenas de milhares de horas de trabalho que não foram dadas”, alerta o presidente do SIM, apontando o exemplo do hospital de Santa Maria, onde “foi vacinado um terço dos profissionais de saúde”, e dos centros hospitalares das Misericórdias, em que “menos de um décimo” já receberam a vacina.

Já o presidente da FNAM, Noel Carrilho, adianta que a federação tem recebido “centenas de denúncias por parte de médicos que revelam que o processo de vacinação está a ser desorganizado e muito pouco transparente”.

“É com espanto que constatámos que não tem havido o necessário cuidado para preservar um recurso escasso como é a vacina e não estão a ser respeitados os critérios de prioridade”, referiu Noel Carrilho, para quem esta preocupação é extensiva aos profissionais de saúde dos setores público e privado.

“Exigimos que sejam cumpridos rigorosamente os critérios que foram definidos. Sabemos de casos em que foram vacinadas pessoas que não teriam essa prioridade”, disse o responsável da FNAM.

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