2022 – Reverencialmente Resistentes!
"Os utentes, porque precisam de médicos de família, desesperam por não compreender as limitações de que são vítimas e prejudicados e por não entender onde estão os milhares de médicos que a Ministra da Saúde repete ter contratado…"

2022 – Reverencialmente Resistentes!

Em Portugal e na Europa caminhamos para dois anos inteiros de Pandemia…

E, ao mesmo tempo, continuam por fazer as contas e os cálculos às consequências no plano económico, social e fiscal. Cá e por boa parte do Mundo.

Entretanto, mais Portugueses ficaram sem médico de família.

O Governo que diz defender e investir no SNS não só não resolveu o problema de um milhão de cidadãos sem médico de família atribuído como conseguiu, proeza rara, agravar a dimensão da questão. Expliquemos como.

De Norte a Sul as queixas apontam e denunciam a impossibilidade dos médicos de família e das unidades em que se inserem atender e orientar os problemas de saúde e de doença dos seus utentes.

As razões vão sendo identificadas: primeiro a falta de equipamentos de proteção individual para os profissionais e de condições adequadas de segurança para os utentes, depois a monitorização de doentes da área-covid, as funções nos centros de vacinação, as escalas nos ADR e por aí fora…

Os Cuidados Primários – e a Medicina Geral e Familiar, em particular – ficaram ignorados e desapoiados pelas administrações regionais de saúde (ARS) e pelo Ministério da Saúde durante a pandemia.

O Primeiro-Ministro António Costa, que tanto gastou o acrónimo PRR de Plano de Recuperação e Resiliência, bem poderia ter optado por usar alguns dos muitos milhões, para adquirir resilientes clones de médicos de família pacientes e esforçados que reforçassem o SNS…

Mas, não o fez e percebe-se, tendo em vista o que o Primeiro-Ministro pensava em Agosto de 2020 da valentia dos médicos de família – eram uns cobardes.

Podemos ser um povo de velhos, mas a memória precisa de ser preservada em nome do princípio da resiliência.

 

Do lado dos Hospitais ouve-se a história do costume.

Os doentes, os mais e os menos, continuam a dirigir-se preferencialmente para os serviços de urgência. E o País ouve falar em vésperas de eleições legislativas de verdes e de azuis a mais e aos molhos, que deveriam dirigir-se aos Cuidados Primários, os tais que não conseguem já dar resposta aos doentes com patologias crónicas, aos programas de rastreios oncológicos já super-atrasados, às necessidades de saúde mental dos seus utentes, às interrogações e preocupações dos pais ansiosos nas dúvidas sobre as vacinas contra a Covid-19, aos seguimentos de infectados e isolamentos e por aí fora!

Mas, na realidade os cidadãos ouvem diariamente opiniões, comentários, projeções matemáticas, filosóficas ou agnósticas, pedidos e propostas de decisões e de estratégias, que transformaram não-profissionais de saúde em peritos em virologia e constatam que médicos, muitos médicos, de variadas especialidades opinam e partilham da sua experiência sobre a pandemia, mas não observam idêntico tratamento em relação aos médicos de família.

Por outras palavras, não há resiliência que lhes valha, não.

De facto a Medicina Geral e Familiar e os Cuidados Primários não ganham prime time nem granjeiam da parte dos decisores a consideração que lhes é devida. Por isso, os governantes e decisores da saúde só se podem queixar de si próprios e do apagamento a que se remetem os Cuidados Primários.

O papel e a visibilidade da rede de maior proximidade e acessibilidade no SNS e das suas equipas multiprofissionais é, ao fim de quase dois anos, praticamente invisível para a opinião pública e para os outros níveis de cuidados com que seria suposto articularem-se.

As reuniões dos sábios e dos políticos esqueceram-nos ou nem tanto:

– Um tal que diziam ser Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior atribuiu-nos até uma simplificação da formação, menorizando a Especialidade e defendendo o “abreviar” da mesma, numa confusão ignorante sobre pré- e pós-graduação, entre curso universitário e especialização!

Os utentes, porque precisam de médicos de família, desesperam por não compreender as limitações de que são vítimas e prejudicados e por não entender onde estão os milhares de médicos que a Ministra da Saúde repete ter contratado…

Os outros, muitos outros, sem nome nem título e sem alternativa, aguardam que o Governo lhes atribua um médico de família.

Todos desesperados e reverencialmente resilientes à espera que, quem sabe um “governo mais curto e mais ágil” lhes resolva o drama…

Um Bom 2022 para Todos, os resilientes em especial e os outros em geral…

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