WONCA 2025. Elogios e apelos a um maior reconhecimento da MGF no mundo

Mais de 4 mil médicos de família estão a participar no WONCA 2025. Na sessão de abertura, que contou com a presença da ministra da Saúde e do bastonário da Ordem dos Médicos, pediu-se mais atenção a uma especialidade que é considerada basilar para a saúde da população mundial.

WONCA 2025. Elogios e apelos a um maior reconhecimento da MGF no mundo

São mais de 4 mil os médicos de família, de 117 países, que estão reunidos no WONCA 2025, em Lisboa. O congresso mundial decorre até sábado e conta com vários momentos científicos e de convívio interpares.

Num evento “marcante”, Nuno Jacinto, presidente da APMGF, realçou que a Medicina Geral e Familiar (MGF) é “o pilar dos sistemas de saúde” do mundo inteiro e que faz toda a diferença na sociedade. “Há 11 anos, no mesmo centro de congressos, o Prof. Richard Roberts ofereceu-nos uma conferência inspiradora no encerramento do congresso europeu da WONCA, que reforçou o meu amor pela MGF. Nessa comunicação, falou-nos da importância e do poder do um. Hoje, posso estar aqui a reafirmar a imensa força que existe em cada médico de família, em cada um de nós.”

“Nós, médicos de família, podemos mudar a vida daqueles que procuram a nossa ajuda. E quando transformamos uma vida, transformamos uma família, uma comunidade, um país e finalmente o mundo”.

Mas, apesar da mais-valia da especialidade, lembrou que se enfrentam “desafios enormes na defesa e no desenvolvimento da MGF”. Continuando: “Nunca podemos esquecer que a nossa missão fundamental é  cuidar das pessoas.”

O mesmo pensa Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, e uma das figuras que esteve presente na sessão de abertura. “Os médicos de família são uma afirmação de justiça social; garantem que toda a vida tem valor, que a saúde é um direito e não um privilégio”, salientou.

Mencionou, ainda, resultados de estudos que indicam que o seguimento por médico de família por 15 anos diminui a mortalidade, mas também as hospitalizações (28%) e as idas desnecessárias às urgências (30%). Para o responsável, estes dados são exemplo de como se pode ter um sistema mais eficiente, onde se vive mais e com qualidade de vida.

Espera, assim, que a especialidade seja reconhecida e que seja uma realidade em mais países. Quanto a Portugal, criticou o facto de haver médicos sem especialidade na Medicina Familiar, algo que é impensável na Cirurgia, por exemplo. “Isto é inaceitável”, reiterou.

Por fim, frisou que “a medicina começa e termina com a relação humana”. Desse modo, “nenhum software pode substituir o olhar atento [de um médico de família].”

Também presente na abertura do congresso esteve a ministra da Saúde, Ana Paula Martins. “É graças ao SNS que os CSP se desenvolveram em Portugal. Portugal tem das melhores redes de CSP da Europa e até do mundo”, começou por dizer. Mas, como acrescentou, “podemos sempre fazer mais e melhor”.

A governante elogiou o papel da Medicina Familiar, considerando que  a MGF e os CSP permitem um sistema “mais justo, humano e sustentável”, ao garantirem a saúde física e psicológica dos cidadãos, além de também terem um papel relevante na prevenção da doença.

Olhando para o futuro, reconheceu que o grande desafio dos sistemas de saúde  – em Portugal e não só – é os recursos humanos. “A reforma trouxe frutos positivos, mas não podemos parar por aqui. O futuro exige mais e exige que possamos garantir que todas as pessoas têm acesso a um médico de família e a um enfermeiro de família, algo que ainda não se concretizou em Portugal”.”

Schlomo Vinker, a terminar o mandato à frente da WONCA Europe, enalteceu o papel dos médicos de família no mundo, lembrando que, apesar das diferentes realidades, há princípios comuns. “Todavia, os nossos princípios básicos enquanto médicos de família são os mesmos. Estamos dedicados e comprometidos com os nossos doentes, famílias e comunidades.”

Numa mensagem em vídeo, o diretor-geral da OMS, Tedros, elencou os princípios da Medicina Familiar como a integração de serviços, os cuidados de continuidade e holísticos e o empoderamento das pessoas e das comunidades.

A apresentação dos oradores esteve a cargo de Nina Monteiro, co-chair do comité organizador local do WONCA 2025. A sessão de abertura contou ainda com um momento musical.

Maria João Garcia

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