“Temos de evoluir para uma medicina mais personalizada e centrada no doente”

Em entrevista ao SaúdeOnline, Ana Teresa Timóteo, presidente do Congresso Português de Cardiologia (CPC) 2023, falou da organização deste evento, dos objetivos delineados e do seu tema central: “Shaping the Future”. A cardiologista vê o futuro da medicina cardiovascular com otimismo. Refere que a inovação terá impacto no diagnóstico e no tratamento dos doentes, que deve ser, cada vez, mais personalizado e centrado nas necessidades de cada um.

Qual a razão da escolha do tema “Shaping the Future” para este CPC 2023?

A escolha do tema “Shaping the Future” está relacionada com a construção do futuro da medicina cardiovascular, através de toda a investigação, tanto nacional, como internacional; e das novas recomendações que as sociedades científicas internacionais vão publicando.

É isto que está espelhado no nosso programa científico: a investigação realizada nos vários trabalhos apresentados e nas comunicações orais, mas também a apresentação das últimas recomendações das sociedades europeia e americana de Cardiologia. Vamos ter ainda discussão de alguns temas mais recentes e de outros mais controversos, que vão definir o futuro da medicina cardiovascular.

 

Como é que vê esse futuro?

Será um futuro muito inovador! Penso que irão surgir inovações resultantes da investigação, que, com certeza, terão impacto no diagnóstico e no tratamento das doenças cardiovasculares. Portanto, vejo o futuro com muito otimismo.

 

Destas inovações que foram abordadas no Congresso, quais destaca?

Por exemplo, o tratamento da doença valvular, em que temos novas técnicas de tratamento, que não se limitam a um tratamento cirúrgico convencional e habitual. Falámos destas novas técnicas, assim como dos métodos de imagem para diagnóstico que, também, têm evoluído bastante nos últimos anos.

O Congresso foi muito abrangente, discutimos vários aspetos, mais técnicos ou mais práticos, das várias áreas da medicina cardiovascular, desde a arritmologia, à imagem, à doença coronária, aos cuidados intensivos cardíacos, à cirurgia cardíaca, entre outros. Foram abordados todos os aspetos, muito mais do que apenas as inovações e as novidades.

 

Além das sessões para cardiologistas, realizaram-se também sessões para outros profissionais de saúde…

Sim, tivemos algumas sessões dedicadas a técnicos e a enfermeiros, que são os dois grupos profissionais que fazem parte dos núcleos da Sociedade de Portuguesa de Cardiologia.

Mas, apesar destas sessões serem mais específicas para cada um dos grupos, todas as outras foram  também do interesse destes profissionais, uma vez que trabalham na área da medicina cardiovascular.

 

Esta questão da heart team, de que se fala muito, é fundamental para o seguimento dos doentes com patologia cardiovascular? 

Sem dúvida, a heart team é um aspeto importante. Hoje em dia, cada vez mais, as decisões de tratamento, sobretudo das situações mais complexas, passam por uma discussão multidisciplinar, onde são envolvidos não só os cardiologistas – gerais e de intervenção -, como a Cirurgia Cardíaca, para decidir qual a melhor orientação e forma de tratamento para cada um dos doentes.

“Cada vez mais, as decisões de tratamento, sobretudo das situações mais complexas, passam por uma discussão multidisciplinar”

Quais os principais desafios na área cardiovascular?

É difícil falar dos desafios em geral, porque cada área tem a sua especificidade e as suas próprias questões. Eu diria que, cada vez mais, terá que se evoluir para uma medicina mais personalizada, mais centrada no doente, identificando as suas necessidades; assim como para o envolvimento da heart team, de forma a discutirmos qual é o melhor tratamento para aquele doente individual.

As recomendações são muito gerais, mas na prática tem que se individualizar o tratamento para cada um dos doentes. Isso é fundamental, tal como a multidisciplinaridade.

 

Como foi organizar um congresso com estas dimensões?

O congresso foi organizado em equipa, ou seja, por uma comissão organizadora de 17 elementos de vários hospitais de norte e sul do país. Tivemos uma contribuição importante dos vários grupos de estudo e das associações especializadas da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que, dentro de cada área temática, nos enviaram sugestões, que organizámos de forma a construir um programa científico tão abrangente quanto possível.

Dentro das várias áreas, temos também convidados internacionais muito especializados que nos vão dar o seu parecer e a sua abordagem. São as chamadas sessões “Meet the Expert”.

 

Quais foram os principais objetivos a que a comissão organizadora se propôs para a construção do programa científico?

O objetivo foi construir um programa de interesse para todos: para os cardiologistas, independentemente da sua área temática; mas também, e como já referi, para os outros profissionais de saúde, como técnicos e enfermeiros; e, ainda, para os internos, que estão em formação, e que, provavelmente, têm um interesse adicional em ter uma atualização eficiente nas várias áreas.

 

Texto: Sílvia Malheiro

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