Tabagismo e risco cardiovascular
Médico - Consulta Cessação Tabágica, USF Colina de Odivelas

Tabagismo e risco cardiovascular

As Doenças Cardiovasculares (DCV) são as que mais matam em Portugal.  O uso de tabaco é fator major para morbilidade e mortalidade por doenças cardiovasculares.

Fumar é uma dependência, em que para lá da adição à nicotina ocorre uma inter-relação de fatores fisiológicos, psicológicos e comportamentais. Precursor de múltiplas patologias (incluindo, neoplasias), o tabagismo não poupa órgãos e sistemas e é a principal causa de morte evitável no mundo. Das mortes , cerca de 85% ocorrem por doenças cardiovasculares. Em adultos jovens (com menos de 45 anos), 1/3 das mortes por DCV são provocadas pelo tabaco.

A exposição passiva ao fumo do tabaco também aumenta o risco de DCV. As mais de 7 mil substâncias químicas identificadas no fumo do tabaco são quase todas nocivas. Muitas aumentam a coagulabilidade, a agregação plaquetária e a formação de trombos. São aterogénicas e fatores causais no desenvolvimento de doença vascular. O tabaco aumenta as LDL-colesterol, triglicerídeos e apolipoproteína B100  e reduz as HDL-colesterol.

A nicotina é vasoconstritora, leva a aumento da rigidez arterial, aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade do miocárdio, podendo aumentar a pressão arterial. O monóxido de carbono reduz a capacidade de os glóbulos vermelhos transportarem oxigénio para o tecido muscular cardíaco e outros tecidos.

O stress oxidativo provocado pelos radicais livres dos componentes do fumo do tabaco ativa uma reposta inflamatória, promovendo níveis mais elevados de proteínas associadas a processos inflamatórios vasculares. O tabaco está associado a proteínas iniciadoras e facilitadoras da progressão da lesão aterosclerótica. Fumar leva à diminuição da biodisponibilidade de óxido nítrico, à diminuição da função vasodilatadora e à disfunção endotelial.

O tabaco aumenta o risco de todo o tipo de eventos cardiovasculares. A incidência de Enfarte do Miocárdio aumenta 6x nas mulheres e 3x nos homens que fumam 1 maço/dia. É também fator de risco para morte súbita.  Fumar duplica o risco de AVC e esse risco eleva-se com o aumento da carga tabágica: fumador de 20 cigarros/dia tem 6x mais risco de AVC.  Também na Doença Arterial Periférica (DAP)  se observa uma relação dose-resposta entre a carga tabágica e o desenvolvimento, progressão e gravidade da mesma.

Fumadores com DAP apresentam o dobro da taxa de mortalidade cardiovascular, em relação aos com DAP que nunca fumaram.  O tabaco é fator de risco para Aneurisma Aórtico Abdominal (AAA). Relacionado com a degradação da elastina e colagénio da média arterial, através da ativação da MMP 1 e 2, fumar não só aumenta o risco de AAA como potencia o seu crescimento e o risco de rotura nos doentes já com AAA.

Não há um limiar seguro para o tabaco. Fumar 1 cigarro/dia aumenta 48% o risco de doença coronária e de 25% o risco de AVC nos homens. Para as mulheres, os riscos são ainda maiores: 57% no risco de doença coronária e 31% de AVC.  O risco de DCV do fumador é potenciado se tiver associados outros fatores: diabetes, HTA, obesidade, dislipidemia…

Todas as formas de consumo de tabaco são nocivas. Também os não-fumadores expostos ao fumo do tabaco passivamente têm risco acrescido de DCV. Registam um aumento da gravidade dos enfartes do miocárdio (cerca 25%) e do risco de AVC (25%).

A Cessação Tabágica é imperiosa para diminuir a morbilidade e mortalidade dos fumadores e seus conviventes, com ou sem DCV estabelecida. É a intervenção que, isoladamente, tem mais benefícios no doente cardíaco. Por exemplo na patologia coronária, a cessação tabágica tem efeito acentuado na redução de internamento (44%) e da mortalidade (36%). Esta redução da mortalidade é superior à observada com uso de fármacos de prevenção secundária: estatinas (29%), betabloqueantes (23%), aspirina (23%) ou IECA (23%).

Após a cessação tabágica, ao fim de 30 minutos, o ritmo cardíaco baixa. Ao fim de um ano, o risco de doença coronária desce para metade, após 5 anos o risco de AVC e, após 15 anos, o risco de doença coronária igualam o do não fumador. A todos os fumadores e, em particular aos com DCV, deve ser oferecido apoio à cessação tabágica. Esse apoio engloba farmacoterapia e apoio psico-comportamental para a mudanças. Os benefícios serão mais relevantes quanto mais precoce for a cessação tabágica.

 

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