10 Abr, 2024

Saúde e envelhecimento. Peritos de diferentes áreas reúnem-se em Lisboa

O 6.º Congresso CNS – Saúde e Envelhecimento: desafios para a próxima década decorre no dia 13 de abril, em Lisboa. Peritos de diferentes áreas vão debater o modelo de cuidados de saúde do futuro que consiga dar resposta ao aumento esperado de doenças neurodegenerativas, como explica Joaquim Ferreira, diretor clínico do CNS – Campus Neurológico Sénior.

Quais são os desafios que se vão enfrentar na área da saúde e envelhecimento entre 2030 e 2040?

Atualmente, existe evidência que muitas doenças neurodegenerativas vão aumentar nas próximas décadas, em grande medida por causa do envelhecimento da população e por a Medicina conseguir dar cada vez melhores respostas. Face a esta realidade que se aproxima é preciso mudar os cuidados de saúde, caso contrário vai ser muito difícil lidar com uma avalanche destas patologias que são incapacitantes. Este Congresso está dividido em duas partes: primeiro, vamos tentar perceber qual o perfil da população em 2030-2040; segundo, antecipando o aumento da prevalência destas doenças, vamos abordar os possíveis tratamentos e a forma como os vários protagonistas se podem posicionar para se lidar melhor com este desafio. É importante discutir estas questões com várias áreas da sociedade como Sociologia, Investigação pré-clínica, Medicina, Política, Economia e Tecnologia para, em conjunto, nos preparamos para o que aí vem.

Além do envelhecimento da população e da inovação na Medicina, também conta o facto de a população ter cada vez mais conhecimentos e procurar ajuda médica mais cedo?

É verdade que, atualmente, há mais conhecimento e uma aposta maior na educação para a saúde, mas nalgumas áreas ainda não é bem assim. Por exemplo, na demência e no declínio cognitivo ainda existe um grande desconhecimento e desvalorização de algumas queixas, como falhas de memória, quer por parte da população quer dos profissionais de saúde. O esquecimento está muito associado ao envelhecimento normal, não se procurando ajuda atempadamente. Além disso, vamos ter de ter em conta que esse tipo de patologias, incapacitantes, vão exigir uma abordagem multidisciplinar. O padrão centrado no médico – sou neurologista, é uma autocrítica – terá de mudar, porque não haverá médicos suficientes e também porque o tratamento mais adequado é o multidisciplinar com médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, técnicos ocupacionais… O próprio modelo de cuidados deve mudar e temos que nos preparar para o desenhar e implementar, mas também para se rentabilizar os recursos existentes.

“Estima-se que haja 200 mil pessoas com demência, ou seja 2% da população. Mas em 2050 deveremos ter 400 mil”

Como se pode impedir e atrasar o aparecimento de doenças associadas ao envelhecimento?

Ainda não conseguimos interferir no relógio biológico, mas há medidas que podem e devem ser tomadas. Por exemplo, a perda de audição é um fator de risco para demência e, infelizmente, é pouco valorizado. Tratar bem os fatores de risco cardiovasculares também permite atrasar ou prevenir demência. No que for possível, é preciso intervir. Estima-se que haja 200 mil pessoas com demência, ou seja 2% da população. Mas em 2050 deveremos ter 400 mil. Vão ser assim 4% da população. Estas pessoas vão perder capacidades e vão precisar de cuidadores. Esta realidade é inexorável, vai mesmo acontecer, daí ser fundamental ter estes momentos de reflexão.

 

No dia 11 de abril assinalou-se o Dia Mundial da Doença de Parkinson. Esta será uma das doenças neurodegenerativas que deverá aumentar nas próximas décadas?

De todas, é provavelmente aquela que mais vai aumentar em termos de prevalência, o que exigirá um melhor modelo de cuidados de saúde. Na Doença de Parkinson não basta tratar-se os sintomas com medicamentos. Necessita-se de tecnologia e de medidas não farmacológicas como exercício físico adequado, meios de socialização e cuidados multidisciplinares. Temos de preparar o futuro para que todos os doentes possam ter acesso aos melhores cuidados.

MJG

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