Reunião conta com apresentação de documento de consenso sobre IC de fração de ejeção preservada
A V Reunião do Núcleo de Estudos de IC da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna vai ter lugar no dia 28 de setembro, no Porto. Joana Pimenta, a coordenadora, faz uma antevisão do evento e anuncia a apresentação de um documento de consenso sobre insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
Porquê o tema “Insuficiência Cardíaca (IC)- Rumo a um porto seguro” na V Reunião do NEIC?
A IC é um problema grave, inclusive em Portugal, como ficou demonstrado no estudo PORTHOS, mas ainda há várias lacunas na sua abordagem. Os doentes devem ser avaliados de uma forma global, integrada, multidisciplinar para que tenham qualidade de vida. Em suma, é preciso rumar a um porto seguro, de modo a diminuir as hospitalizações e complicações associadas.
Com o envelhecimento da população, estão a aumentar os casos de IC?
Sim. O estudo PORTHOS demostrou que, acima dos 50 anos, um em cada cinco portugueses tem IC e as previsões globais são de que deverá aumentar consideravelmente o número de pessoas com IC por causa do envelhecimento, mas também por se ter taxas mais elevadas de sobrevida de eventos como um enfarte agudo do miocárdio (EAM). Não podemos, também, esquecer os fatores de risco de IC como a obesidade, a doença renal crónica, a diabetes, a hipertensão arterial, entre outros.
“O acesso à terapêutica deve ser mais ágil e estruturado e tem de haver uma aposta maior na articulação de cuidados. É necessário investir numa rede de referenciação organizada”
Atualmente, quais os principais desafios que os profissionais de saúde enfrentam na abordagem da IC?
Ainda há vários pontos a melhorar. O acesso à terapêutica deve ser mais ágil e estruturado e tem de haver uma aposta maior na articulação de cuidados. É necessário investir numa rede de referenciação organizada, que permita maior integração entre cuidados secundários e primários. Os próprios doentes devem ter, também, mais literacia em saúde para conhecerem a patologia e para saberem como a gerir. Neste ponto ainda estamos numa fase muito embrionária, porque faltam enfermeiros dedicados à IC. Estes profissionais de saúde têm um papel muito importante na educação terapêutica, no ensino da autogestão da doença. Não nos podemos esquecer também da população geral, para se alertar para a importância dos hábitos de vida saudável e para pedirem ajuda perante determinados sintomas. E, inevitavelmente, é preciso apostar-se em determinadas políticas de saúde.
No evento vai ser apresentado um documento de posicionamento de peritos do NEIC e do GEIC. Em que consiste?
A IC com fração de ejeção preservada (ICFEp) tem forte impacto em Portugal, como está demonstrado no estudo PORTHOS, porque o diagnóstico não é tão claro como noutro tipo de IC. Existem também menos respostas terapêuticas. Nesse sentido, criámos este documento para ajudar quem trata destes doentes. Contou com a colaboração de peritos do NEIC da SPMI, assim como do Grupo de Estudos de IC da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e do Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da Associação Portuguesa da Medicina Geral e Familiar.
“… são apresentadas as lacunas existentes atualmente na abordagem da ICFEp em Portugal e é proposto um algoritmo diagnóstico, terapêutico e de referenciação”
O documento já está online?
Ainda não. Está finalizado, vai ser submetido nos próximos dias para apreciação, mas estará dentro em breve.
Quais são as ideias-chave do documento?
Este documento divide-se em duas partes: a primeira, é uma reflexão sobre a doença em si (pato-fisiologia, abordagem diagnóstica e avanços terapêuticos) e, a segunda, é uma abordagem pragmática da ICFEp em Portugal. Nesta última, são apresentadas as lacunas existentes atualmente na abordagem da ICFEp em Portugal e é proposto um algoritmo diagnóstico, terapêutico e de referenciação. Este trabalho destina-se a todos os médicos que têm contacto com doentes com IC, como cardiologistas, mas também os especialistas em Medicina Geral e Familiar, que têm um papel fundamental no diagnóstico precoce destes doentes. Quanto mais cedo forem identificados, mais rapidamente serão encaminhados e tratados de forma adequada. Quanto aos internistas, este consenso também vai ajudá-los na sua prática clínica, face ao trabalho que têm, sobretudo, na IC aguda, que é uma patologia muito prevalente nas nossas enfermarias.
Além deste documento, que outros momentos gostaria de destacar?
Vai ser um evento com temas abrangentes como ICFEp, IC de fração de ejeção reduzida e IC aguda. Vamos começar com um curso prático sobre Congestão, algo muito difícil de gerir em IC. Os formadores vão abordar como se avaliar a congestão, com o apoio da ecografia. O curso vai realizar-se no Hospital Eduardo Santos Silva, na ULS Gaia-Espinho. Terminaremos com uma sessão de apresentação de trabalhos dos internos.
MJG