Reabilitação respiratória – A perspetiva da enfermagem
Presidente da Associação Portuguesa dos enfermeiros de reabilitação

Reabilitação respiratória – A perspetiva da enfermagem

Em Portugal, as doenças respiratórias são a 3ª causa de morte, sendo a 1ª em internamentos hospitalares. O envelhecimento progressivo da população, a dificuldade respiratória de agravamento progressivo e a limitação das atividades de vida diárias, levam a que as equipas de saúde assumam um papel crucial no controlo do percurso da doença sendo fundamental o alívio dos sintomas, a diminuição da limitação funcional, a melhor tolerância ao esforço, a participação do doente na vida social e uma melhor qualidade de vida. 

Esta é uma intervenção estratégica cada vez mais pertinente onde o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) assume um papel liderante pelas suas competências profissionais, pelas suas funções na equipa de saúde, mas também pela sua proximidade às pessoas e aos diferentes contextos em TODO o Sistema de Saúde, desde o nascer até ao fim de vida. Por isso, a Enfermagem tem sobre este assunto uma perspetiva integradora dos cuidados, centrados nas pessoas, nas suas famílias e no seu ambiente, suportados na melhor e evidência científica e no modelo organizativo mais adequado. Só assim será possível obter bons resultados para as pessoas, mas também para a gestão dos recursos em saúde. 

E este modelo de prestação e organização dos cuidados deve estar estruturado em alguns pilares fundamentais.

Não pode estar focado exclusivamente na doença, mas também ter uma forte componente de valorização das suas consequências a nível das diferentes dimensões da pessoa (física, psíquica, social, familiar, laboral, etc.)

É fundamental o conhecimento profundo da pessoa, da sua situação de doença, mas também das suas expetativas e da forma como ela está e vai gerir, com o objetivo de (lhe) personalizar os cuidados, promover comportamentos e estilos de vida saudável assim como melhorar a qualidade de vida relacionada com a saúde, sabendo que é determinante a capacidade da pessoa para aceitar este processo de transição e, assim, aderir ao “seu” programa respiratório.

Considerando as diferentes recomendações e boas práticas existentes, é decisiva a capacidade de implementar um Programa de Reabilitação Respiratória que seja capaz de estabelecer programas educacionais de autogestão, gestão do regime terapêutico (farmacológico e não farmacológico) essencial para que a pessoa adquirir conhecimentos, habilidades e estratégias de forma a facilitar mudanças de comportamento sustentadas, treino de exercícios aeróbicos e de resistência, progressão do exercício, treino muscular respiratório para capacitar a pessoa a realizar as tarefas diárias que envolvem esforço físico com menor dispneia e fadiga e maior autonomia e independência, processos, monitorização e avaliação regular que permitam identificar os resultados obtidos e ajustar a intervenção.

As equipas de saúde devem estar organizadas para que seja possível o trabalho colaborativo, a prestação de cuidados no “timing” adequado, o mais próximo do contexto onde se encontra a pessoa (seja por ex. no internamento ou em contexto domiciliário onde o EEER é uma mais valia para sua competência funcional abrangente e autónoma).

Sabemos, contudo, que ainda há muito a fazer nesta área pois apenas 1% das pessoas que necessitam têm, efetivamente, acesso a cuidados de reabilitação respiratória. 

Por isso, melhorar a cobertura da resposta em Reabilitação Respiratória é um desafio permanente que nos deve comprometer com a rentabilização de todos os recursos em saúde, com a procura de padrões e práticas de cuidados seguros, mas que facilitem o acesso a Programas de Reabilitação Respiratória na sua totalidade ou a um conjunto dos seus componentes que possam produzir efetiva melhoria na qualidade de vida das pessoas, onde elas estão e vivem.

Seja de forma individual ou em grupo, seja presencial ou com recurso a novas tecnologias (por ex. a telereabilitação), seja em contexto diferenciado nos hospitais e centros de saúde ou seja no contexto domiciliário, locais onde deve ser possível reunir os equipamentos e demais recursos para, aí, se prestarem os melhores cuidados possíveis.

Não podemos estar à espera de reunir todas as condições. Temos o dever ético e deontológico de fazer o melhor com os recursos disponíveis numa postura segura e sustentada na evidência científica, mas centrada no doente, colaborativa, proativa e preventiva para que seja possível melhorar a qualidade de vida da pessoa com consequente redução dos custos em recursos de saúde.

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