Ordem, Ação e Estratégia na Direção Executiva do SNS
Medicina Interna da ULSSA Porto

Ordem, Ação e Estratégia na Direção Executiva do SNS

Não há melhor maneira de saber como vai o SNS do que uma conversa franca com médicos em início de carreira. Eles fizeram um esforço tremendo para aqui chegarem e não podem desperdiçá-lo com uma má escolha.

Como estou dedicado às Doenças Autoimunes, a cada três meses vem uma nova revoada de Internos para estágio, de todo o País. Há dias, no final da consulta, uma Interna dum grande hospital da área metropolitana de Lisboa dizia-me que já não reconhecia o Serviço de Medicina Interna que tinha escolhido há quatro anos para a sua formação específica.

Tinham saído 24 especialistas de Medicina Interna, a maior parte deles com opção pelos grandes hospitais privados. A Direção do Serviço, sem voz própria e apenas correia de transmissão da Administração. Os Responsáveis das Alas, nomeados pelas provas de obediência, sem mérito reconhecido pelos pares. Ela própria, quando obtiver a titulação como especialista, não hesitará em sair.

No mesmo dia desta conversa, a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) divulgou os números dos Internamentos Sociais, que são os piores de sempre, com 11% de todas as camas hospitalares do SNS ocupadas por doentes com alta clínica. Esperam e desesperam, até que surja uma vaga no Lar da Segurança Social ou na Rede de Cuidados Continuados. Enquanto isso, estão internados centenas de doentes nos Serviços de Urgência, que não sabem nem devem tratar doentes crónicos não emergentes. Muitos desses até pioram com essa estadia sofrida, sem descanso possível dias seguidos. A girândola infernal da mudança das equipas de urgência prejudica os doentes que já lá estão, porque é preciso ver os que chegam às catadupas. Alguns morrem nessa espera sem paz.

Ainda na mesma Quarta-feira, foi revelado o novo Diretor Executivo do SNS, o Tenente-Coronel Médico António Gandra d’Almeida. Pela surpresa e juventude, a reação geral pareceu-me semelhante à que teve Sebastião Bugalho, catapultado de comentador político a líder da Aliança Democrática nas Eleições Europeias. A verdade é que ninguém diz mal do novo Diretor Executivo do SNS. Os Bastonários dos Médicos e dos Enfermeiros conhecem-no e apostam nele como uma escolha acertada e corajosa. Segundo dizem, é um líder em cenários de catástrofe, que não se escusa a trabalhar no terreno. Vimo-lo a revirar os escombros do terramoto na Turquia de 2023. O Presidente da República condecorou-o por isso.

No currículo sobra-lhe em formação de sinistros, o que lhe falta em gestão. Mete-me alguma confusão esta falha, quando se têm de fazer opções para o gasto de tantos milhões, que parecem sempre insuficientes. Talvez o facto de ser militar ajude!

A Saúde é um bem sem preço, que todos queremos preservar. Por isso, é também um negócio apetecível e as variações dos humores dos políticos são constantes. As decisões são imediatistas, com o intuito de esvaziar a celeuma lançada pela última manchete. Os militares têm habitualmente pouco jogo de cintura. Traçam uma estratégia para alcançarem os objetivos definidos e resistem a alterar o rumo de acordo com as circunstâncias. Precisamos disso. Boa sorte!

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