
João Páscoa Pinheiro, Flávio Ribeiro, Edite Teixeira de Lemos
O exercício físico na diabetes tipo 2
1 – Compreender o Impacto do Exercício
Só recentemente a comunidade científica biomédica reconheceu os efeitos do exercício na prevenção e tratamento das doenças metabólicas em particular da diabetes tipo 2 (DT2). Caracterizada por resistência à insulina, hiperglicemia e dislipidemia, tem associadas a inflamação sub-crónica e o stresse oxidativo (1,2). O exercício regular, quando praticado de forma apropriada e equilibrada, desempenha um papel regulador da sensibilidade à insulina e do metabolismo sistémico global por induzir uma resposta de hormese que fortalece os mecanismos de defesa antioxidante do organismo, reduzindo o stresse oxidativo, a inflamação sub-crónica e os seus efeitos adversos (2). Muitos dos benefícios metabólicos do exercício dependem de adaptações induzidas no músculo esquelético, mas também no fígado, tecido adiposo, vasculatura e pâncreas e da secreção, durante e após o exercício, de moléculas de sinalização, chamadas coletivamente de ‘exercinas’, que criam uma complexa rede interorgânica, responsáveis pelos efeitos sistémicos do exercício na saúde metabólica (3) . De uma forma breve há evidências de serem estes fatores os responsáveis pelos efeitos benéficos do exercício físico regular no aumento da sensibilidade à insulina, redução da glicemia, diminuição dos níveis de HbA1c, mas também na gestão do peso, na saúde cardiovascular e no bem-estar emocional e mental do diabético.
2 – Qual é o melhor exercício físico?
Uma prescrição de exercícios eficaz para diabetes tipo 2 deve ser personalizada, incluindo uma avaliação inicial, exercícios aeróbicos (150 minutos/semana), treino de resistência (2-3 vezes/semana), flexibilidade/equilíbrio (3 vezes/semana). Deve ser monitorizada a intensidade e duração, a educação sobre hipoglicemia e outros fatores de risco. A colaboração interdisciplinar pode ser importante no controle da doença e na promoção da qualidade de vida (4, 5)
3 – Quais os cuidados e limites nesta prescrição?
Os doentes com DM2 devem tomar precauções específicas para a realização de atividade física: manter uma hidratação adequada, usar roupas e calçado apropriado, evitar extremos de temperatura, evitar exercícios de alto impacto e intensidade se tiverem retinopatia diabética ou neuropatia periférica e devem ser assegurados períodos de aquecimento e arrefecimento, bem como alongamentos, de forma a prevenir lesões musculoesqueléticas. As hipo e hiperglicemias são as complicações imediatas de maior importância, pelo que deve ser monitorizada a glicemia antes, durante e após o exercício. Os níveis de glicemia seguros para o início de atividade física são de 90 a 250 mg/dL, sendo necessário realizar ajuste do aporte de carboidratos de acordo com a intensidade do exercício a praticar. (4, 5)
4 – Bibliografia
- Petersen MC, Shulman Gl Mechanisms of Insulin action and insulin resistance. Physiol Rev. 2018; 98(4): 2133–2223.
- de Lemos ET, Oliveira J, Pinheiro JP, Reis F. Regular physical exercise as a strategy to improve antioxidant and anti-inflammatory status: benefits in type 2 diabetes mellitus. Oxid Med Cell Longev. 2012;2012:741545.
- L.S. Chow, R.E. Gerszten, J.M. Taylor, et al. Exerkines in health, resilience and disease. Nat. Rev. Endocrinol., 18 (5) (2022), pp. 273-289
- Colberg SR, Sigal RJ, Yardley JE, Riddell MC, Dunstan DW, Dempsey PC, et al. Physical activity/exercise and diabetes: A position statement of the American Diabetes Association. Vol. 39, Diabetes Care. American Diabetes Association Inc.; 2016. p. 2065–79.
- Liguori G, Feito Y, Fountaine C, Professor F, Roy BA. ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription. 11th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2022; pp. 496–509
Autores:
João Páscoa Pinheiro, médico especialista em MFR e Medicina Desportiva, Professor Associado da FMUC
Flávio Ribeiro, IFE em MFR
Edite Teixeira de Lemos, Professora do Instituto Politécnico de Viseu